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domingo, 1 de outubro de 2023

Escrito por em 1.10.23 com 0 comentários

James Bond (V)

Há quinze anos, lá em 2008, eu fiz uma série de quatro posts sobre os filmes do 007, parando após algumas especulações sobre Quantum of Solace, que estava prestes a ser lançado. De lá pra cá, foram lançados mais três filmes, e, como Daniel Craig chegou ao fim de sua jornada como o agente secreto mais famoso do cinema, com o próximo filme tendo um novo ator no papel principal, me parece justo completar essa série também. Assim, hoje, é mais uma vez dia de James Bond no átomo!


Para começar esse post, porém, eu vou ter que andar um pouquinho para trás. Como nós vimos lá em 2008, após uma série de fracassos estrelados por Pierce Brosnan, a EON Productions, responsável pela adaptação dos livros do 007 para o cinema (sim, se você não sabe que os filmes do 007 são parcialmente baseados em livros, por favor leia os posts anteriores), decidiria não por uma sequência, e sim por um reboot, começando a história toda do zero, totalmente adaptada para o século XXI. Assim, Casino Royale, que estreou em novembro de 2006, primeiro da série com Daniel Craig no papel principal, ignoraria todos os 20 filmes anteriores, e mostraria um jovem James Bond, pouco tempo depois de conseguir sua licença para matar, em sua primeira missão internacional de grande importância, durante a qual conhece o agente da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright) e o grande amor de sua vida, Vesper Lynd (Eva Green).

O reboot também permitiria à EON fazer uma coisa que jamais havia acontecido em 45 anos de filmes do 007: os cinco filmes estrelados por Craig são sequenciais, com uma única história, e os eventos de cada um se refletindo nos seguintes. Até então, embora alguns elementos de filmes anteriores fossem citados ou mostrados nos filmes seguintes, a maioria deles se parecia com easter eggs ou fanservice, com cada filme sendo mais como uma história solta, com começo, meio e fim e sem nenhuma influência das anteriores ou sobre as seguintes. Isso funcionou relativamente bem durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, quando as séries de televisão também seguiam uma estrutura parecida, mas foi considerado pela MGM como um dos principais fatores para o fracasso dos filmes do fim da década de 1990, uma época na qual o público já estranhava a mudança de intérprete para Bond sem nenhuma explicação e o fato de que ele parecia não ter memórias de suas aventuras prévias. Os cinco filmes de Craig, portanto, são uma espécie de "série dentro da série", seguindo a estrutura de continuações que já é familiar ao público do cinema.

Com esse fator em mente, o filme seguinte, Quantum of Solace, seria uma continuação direta de Casino Royale, tanto que a pré-produção de ambos os filmes seria conjunta, e começaria já em 2005. Quantum of Solace é o título de um conto escrito por Ian Fleming, o criador do 007, em 1959, mas o filme não tem absolutamente nada a ver com o conto, sendo um roteiro totalmente original; no Brasil, o título desse conto já foi traduzido para O Quantum do Refrigério e para o quase pornográfico A Medida do Consolo, de forma que, sem uma tradução melhor, e sem querer mudar completamente o título, a Sony do Brasil optaria por deixá-lo quase no original, com o filme em nosso país se chamando 007 Quantum of Solace.

O filme começa pouquíssimo tempo após o final de Casino Royale, com Bond descobrindo através do Sr. White (Jesper Christensen) que uma organização criminosa chamada Quantum (talvez para dar um sentido ao nome do filme) possui agentes infiltrados no MI6, o serviço secreto britânico, um deles o guarda-costas de M (Judi Dench). Investigando esse guarda-costas após um atentado frustrado contra a vida de sua chefe, Bond acaba conhecendo a Bond Girl da vez, Camille Montes (a atriz ucraniana Olga Kurylenko), namorada do ambientalista Dominic Greene (Mathieu Amalric), que aparentemente faz parte da Quantum e secretamente está ajudando o General Medrano (Joaquín Cosío), exilado após tentar dar um golpe de estado em seu país natal, a Bolívia, a concretizar esse golpe e tomar o poder, com Greene, em troca, recebendo um terreno aparentemente sem valor no meio do deserto - para complicar ainda mais a situação, Medrano foi o responsável pela morte de toda a família de Camille, que busca vingança. Bond, então, decide viajar para a Bolívia, para descobrir qual seria o interesse de Greene nesse terreno, enquanto busca mais informações sobre a Quantum, seus infiltrados e seu propósito.

Wright também participa do filme como Leiter, enviado pela CIA porque o governo dos Estados Unidos fez um acordo com Greene, segundo o qual, com Medrano no poder, todos os direitos de exploração de petróleo encontrado em solo boliviano pertenceriam a empresas norte-americanas. No melhor estilo dos filmes de 007, o vilão também tem um capanga excêntrico e chamativo, Elvis (Anatole Taubman), um assassino meio incompetente que só faz parte da Quantum porque é primo de Greene; e uma garota bonita e de nome estranho que faz uma breve parceria com Bond, a agente Strawberry Fields (Gemma Arterton), que trabalha no consulado britânico na Bolívia. Apesar disso, Quantum of Solace faria um esforço para se distanciar de normas e conceitos estabelecidos na série original de Bond, como o vilão caricato ou a Bond Girl que é pouco mais que uma donzela em perigo - Camille tem seu próprio plano para assassinar Medrano e não se deixa seduzir por Bond facilmente, enquanto Greene se comporta praticamente como um empresário corrupto do mundo real. Também vale dizer que esse filme marca a primeira aparição do chefe de pessoal de M, Bill Tanner (Rory Kinnear), que também estaria presente nos três filmes seguintes.

A produção de Quantum of Solace seria conturbada e marcada por muitas desavenças, desde um protesto no Chile porque as cenas no deserto foram filmadas lá ao invés de na Bolívia, passando por uma reclamação do governo boliviano pela forma como o país seria retratado, até uma pequena revolta por Kurylenko interpretar uma boliviana - o que tentou ser apaziguado com o argumento de que a personagem é "descendente de russos e bolivianos"; no início, os produtores cogitaram escolher uma atriz latina, e consideraram até as brasileiras Juliana Paes e Fernanda Lima, mas optaram por Kurylenko por sua performance em Hitman. Durante a pré-produção, o diretor seria Roger Mitchell, de um Lugar Chamado Notting Hill, que já havia trabalhado com Craig em Amor para Sempre, mas desistiria por achar que o roteiro estava sendo reescrito muitas vezes, o que poderia ser um indicativo de que a versão final não teria qualidade; ele seria substituído por Marc Forster, que se diria surpreso por ter sido convidado, já que não era fã de Bond e sequer tinha assistido Casino Royale, mas aceitaria após ver que o reboot tinha "humanizado" o personagem, que já não era mais um superespião inabalável. Forster participaria de mais uma reescritura do roteiro, principalmente por não querer fazer um filme longo - segundo ele, um bom filme de espionagem deve ser "rápído como uma bala".

Segundo a lenda, a versão final do roteiro ficaria pronta duas horas antes de ser declarada a greve dos roteiristas de 2007. Embora isso tenha permitido que as filmagens começassem sem atrasos, também significou que nenhum roteirista podia estar presente no set, e que mudanças no roteiro durante as filmagens tinham de ser feitas por Forster ou até mesmo por Craig. Em entrevistas posteriores, Craig declararia ter odiado a experiência e não estar disposto a nunca mais fazer um filme dessa forma. Após o final da greve, um roteirista não creditado seria contratado para reescrever as cenas com as quais o diretor ainda não estava satisfeito, e algumas delas acabariam refilmadas.

Quantum of Solace seria o único filme da série a trazer a famosa "sequência do revólver" no final do filme ao invés de no começo - segundo Forster, isso seria feito para simbolizar que a "história de origem" de Bond, iniciada no filme anterior, estava finalizada. A música da abertura, Another Way to Die, pela primeira vez seria um dueto, cantado por Alicia Keys e Jack White, escolhidos após os produtores cogitarem as cantoras Amy Winehouse, Beyoncé, Leona Lewis e Duffy. Mais uma vez, para que o filme tivesse o "estilo 007", seria usado o mínimo de efeitos de computação possível, com todas as principais cenas usando dublês - inclusive, após dois acidentes graves, um deles no qual um Aston Martin caiu dentro de um lago na Itália, começaram a correr rumores sobre uma "maldição", e que o filme não devia ser concluído. Os principais efeitos de computação seriam usados na cena do incêndio, para que o fogo e a fumaça parecessem estar mais próximos dos atores do que realmente estavam, e na perseguição de barcos.

Quantum of Solace estrearia no Reino Unido em 31 de outubro de 2008, e nos Estados Unidos em 14 de novembro. Com orçamento não revelado, mas estimado entre 200 e 230 milhões de dólares, renderia quase 590 milhões considerando a bilheteria global, e seria considerado pela Sony como um grande sucesso; ainda assim, a crítica consideraria o filme "decepcionante", e elegeria Greene "o pior vilão de Bond de todos os tempos". O filme é hoje considerado o mais fraco dos cinco de Craig, com o ator conjecturando que a greve dos roteiristas pode ter tido um papel nessa percepção, e que talvez tivesse sido melhor adiar a estreia para ter um roteirista presente durante as filmagens. Apesar das críticas negativas, como a bilheteria foi boa, e como Craig já tinha mesmo contrato para três filmes, a EON decidiria seguir em frente e começar a produção do próximo.

A intenção de Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, produtores da série, era que um filme estrelado por Craig estreasse a cada dois anos, como ocorreu durante a maior parte da carreira do 007; assim, a estreia do filme seguinte seria marcada para 2010. Entretanto, o roteiro, que originalmente seria escrito por Peter Morgan, sofreria uma série de atrasos, e esse ano chegaria sem que as filmagens tivessem começado; para piorar a situação, a MGM, responsável pela distribuição dos filmes da franquia, e que desde 2005 fazia parte de um consórcio do qual um dos donos era a Sony, em 2010 entraria com um pedido judicial de reorganização, uma espécie de falência prevista na lei dos Estados Unidos que, ao invés de dissolver a empresa, muda seu comando, que passaria para alguns de seus principais credores. Diante de todos esses problemas, a EON decidiria contratar novos roteiristas e adiar a estreia do filme para 2012, quando o primeiro filme de James Bond faria seu aniversário de 50 anos.

Chamado Skyfall (007 Operação Skyfall no Brasil, skyfall é a "queda do céu"), o vigésimo-terceiro filme da série seria dirigido por Sam Mendes, de Beleza Americana e Estrada para a Perdição, contratado pouco após a estreia de Quantum of Solace, quando Forster declararia não ter interesse em dirigir o filme seguinte. Durante a pré-produção, surgiriam boatos de que o filme se chamaria Carte Blanche, e seria uma adaptação de um romance do 007 escrito por Jeffery Deaver e publicado em 2011, se tornando, assim, o primeiro filme a não ser nem uma adaptação de um romance de Fleming, nem um roteiro original; Barbara Broccoli se apressaria a desmentir esses boatos, mas manteria o nome oficial do filme em segredo até novembro de 2011. O nome Skyfall não aparece em nenhum dos romances de Fleming, e foi criado pelos roteiristas do filme para "soar misterioso" e "cativar a imaginação do público"; ao contrário do que o título em português dá a entender, não há nenhuma operação no filme chamada Skyfall - embora haja um motivo para o filme ter esse nome, que eu não vou revelar porque é meio que um spoiler.

Do elenco dos filmes anteriores, retornam apenas Craig como Bond, Dench como M e Kinnear como Tanner; por outro lado, três outros agentes do MI6 de interesse estreiam no reboot nesse filme: a Bond Girl da vez é ninguém menos que Eve Moneypenny (Naomie Harris), que na série original era a secretária de M, mas aqui é uma agente de campo do MI6, com direito a tiro, porrada e bomba; Q (Ben Whinshaw), o responsável pelas traquitanas que Bond usa em suas missões, retorna em uma versão mais jovem e moderna, conectado à internet e meio geek; e Gareth Mallory (Ralph Fiennes) é um ex-tenente das forças especiais que, ao final do filme, se tornará o novo M, em um encontro entre a série nova e a antiga - o escritório do novo M, da porta à mesa, é praticamente uma réplica do escritório original dos filmes da década de 1960, inclusive com Moneypenny sendo designada para ser sua assistente.

O enredo do filme envolve uma série de ataques cibernéticos, incluindo vazamento de dados sensíveis, orquestrada contra o MI6 por Raoul Silva (Javier Bardem), ex-agente do próprio MI6 que culpa M por ter sido capturado e torturado, e agora busca vingança - uma série de decisões questionáveis de M durante a investigação do caso levam o governo a interpretar que ela estaria também levando para o lado pessoal e a recomendar seu afastamento, com Bond se tornando seu único aliado e único disposto a seguir no encalço de Silva. Silva possui dois aliados, a femme fatale Sévérine (Bérénice Marlohe), uma espécie de "anti-Bond Girl" e o mercenário Patrice (Ola Rapace, ex-marido da hoje bem mais famosa Noomi Rapace, que tem esse sobrenome por causa dele). Albert Finney, um dos mais populares atores britânicos, faz uma participação especial como Kincaid, que tem uma ligação com a infância de Bond; de início, os produtores pensaram em chamar Sean Connery, como uma espécie de homenagem pelo 50o aniversário do primeiro filme, mas depois tiveram medo de que sua presença em outro papel que não o de Bond fosse malvisto pelo público, com Mendes sugerindo Finney - segundo Mendes, aliás, também foi dele a ideia de trazer Moneypenny e Q de volta, e de ter um vilão "histriônico, ao estilo dos da série original", ao invés dos sérios e sisudos dos dois filmes anteriores.

De forma pouco usual para um filme do 007, a maioria das filmagens ocorreria na Inglaterra, com apenas algumas poucas cenas sendo filmadas na Turquia e África do Sul; a equipe de produção pensaria em filmar na Índia, mas, devido à demora para obtenção das permissões, acabaria desistindo, e filmaria na China, mas sem a presença de nenhum dos atores do elenco principal, que faria em estúdios na Inglaterra suas cenas ambientadas na China. Até mesmo a ilha onde fica o quartel-general de Silva, inspirada na ilha japonesa de Hashima, e que no filme fica nos arredores de Macau, seria basicamente criada por computação gráfica, com todas as cenas lá ambientadas sendo filmadas na Inglaterra. Embora as cenas de ação ainda usassem principalmente efeitos à moda antiga, Skyfall teria muito mais efeitos de computação gráfica que seus dois predecessores.

Skyfall estrearia no Reino Unido em 26 de outubro de 2012, e duas semanas depois nos Estados Unidos; seria o primeiro filme estrelado por Craig a trazer a famosa "sequência do revólver" logo no início, ao estilo dos 20 primeiros filmes. A música-tema, escrita, composta e gravada pela cantora Adele, também se chamaria Skyfall, e seria a primeira música-tema de um filme do 007 a ganhar o Grammy de Melhor Canção Escrita pra uma Mídia Visual e o Oscar de Melhor Canção Original - sendo a quarta indicada ao Oscar, depois de Live and Let Die, Nobody Does It Better e For Your Eyes Only, todas de filmes estrelados por Roger Moore - o que faria com que Skyfall se tornasse o primeiro filme do 007 desde Goldfinger a ganhar um Oscar - e o primeiro da história a ganhar dois, já que levaria também o de Melhor Edição de Som. Skyfall também seria o primeiro 007 a passar da casa do bilhão, rendendo 1,109 bilhão de dólares quando somadas as bilheterias do mundo todo, se tornando o segundo filme mais rentável de 2012, atrás apenas de Os Vingadores, e, até então, o filme de maior bilheteria da história da Sony e da MGM. A crítica também seria bastante positiva, considerando-o um dos melhores filmes da série.

Em 2013, Mendes diria em entrevistas não ter interesse em dirigir também o filme seguinte, o que levaria a EON a convidar o dinamarquês Nicolas Winding Refn, que recusaria. Mas, enquanto a EON procurava por outro diretor, Mendes leria o primeiro rascunho do roteiro, ficaria empolgado com as possibilidades que ele trazia para o futuro da franquia, e decidiria voltar atrás, se tornando o primeiro a dirigir dois filmes seguidos do 007 desde John Glen (que dirigiu cinco, entre For Your Eyes Only, de 1981, e Licence to Kill, de 1989).

Um dos motivos que convenceriam Mendes a seguir na direção seria que, após ele trazer de volta Moneypenny, Q e o M original, a EON decidiria trazer de volta também Ernst Stavro Blofeld e a SPECTRE. Como quem acompanhou essa série de posts sabe, a última vez que vimos a organização criminosa internacional e o arqui-inimigo de Bond em um filme oficial foi em Diamonds Are Forever, de 1971; isso porque, dez anos antes, em 1961, quando o livro Thunderball foi lançado, o produtor Kevin McClory entraria na justiça, alegando ter sido ele, e não Fleming, o criador de Blofeld e da SPECTRE. Quando a EON decidisse adaptar Thunderball, em 1965, O caso seria resolvido com um acordo fora dos tribunais, segundo o qual a EON teria os direitos durante dez anos, ao fim dos quais McClory não teve interesse em renovar, pois planejava fazer seu próprio filme do 007 - lançado em 1983 com o nome de Never Say Never Again. Depois disso, McClory e a EON ficariam "de mal", e nunca mais negociariam. Somente após o falecimento de McClory, em 2006, a MGM começaria a negociar com seus herdeiros a compra dos direitos sobre os personagens e organizações criados por ele, finalmente os obtendo justamente em 2013, quando começaria a produção do vigésimo-quarto filme.

Chamado simplesmente Spectre (007 contra Spectre no Brasil - após a MGM comprar os direitos, o nome da organização deixaria de ser uma sigla), o filme traria Bond descobrindo acidentalmente a existência de uma organização criminosa internacional que tem como símbolo um polvo, comandada pelo misterioso Franz Oberhauser (Christoph Waltz). Suspenso por M após agir sem autorização, e às turras com o chefe de uma nova organização de segurança britânica, que fundiu o MI5 e o MI6 e quer acabar com o programa 00, a quem decide chamar de C (Andrew Scott), Bond decide ir ao funeral de um assassino ligado à organização, durante o qual salva a viúva (Monica Bellucci) e descobre que o Sr. White está morrendo e tem uma filha, a psiquiatra Madeleine Swann (Léa Seydoux), Bond girl da vez e alvo de um dos assassinos da organização, conhecido como Sr. Hinx (Dave Bautista). Enquanto salva a vida se Madeleine, Bond se apaixona por ela, e Q descobre que Le Chiffre, Dominic Greene e Raoul Silva todos tinham ligação com a organização, que Madeleine revela se chamar Spectre. Cabe a Bond, então, descobrir qual seria o grande plano da organização, precisando, para isso, encontrar Oberhauser - que, desculpem o spoiler, é ninguém menos que Blofeld.

Spectre
estrearia no Reino Unido em 26 de Outubro de 2015, e nos Estados Unidos em 6 de novembro. Com bilheteria mundial de 880,7 milhões de dólares, seria o sexto filme mais rentável do ano e o segundo mais rentável de Bond, atrás apenas de Skyfall. Com a presença da Spectre liberada, o filme teve que fazer uma pequena retcon nos dois primeiros com Craig, transformando a Quantum de uma organização criminosa independente em um braço da Spectre - por isso o retorno de Mr. White, e por isso a revelação de que os vilões dos dois primeiros filmes também tinham ligações com a Spectre, com Silva também entrando nos quadros da organização para uma maior sensação de continuidade. Spectre também seria o primeiro filme desde Casino Royale a usar elementos das obras de Fleming, com Blofeld sendo filho de Hannes Oberhauser, personagem que, nos livros, foi tutor de Bond em sua adolescência. Além de Craig, retornariam a seus papéis Fiennes, Harris, Whishaw, Kinnear, Christensen e Dench, em sua última aparição como M, exatos 20 anos após sua estreia em GoldenEye.

Com orçamento final não revelado, mas estimado entre 250 e 275 milhões de dólares - um hacker que invadiu os e-mails da Sony divulgou a insatisfação da empresa com o fato de que o orçamento se aproximava dos 300 milhões - Spectre foi um dos filmes mais caros da história do cinema. Após fimar Skyfall inteiramente com câmeras digitais e não ficar satisfeito com o resultado, Mendes decidiria usar também câmeras Kodak 35 mm para algumas cenas, o que encareceria o filme. As filmagens ocorreriam no Reino Unido, Marrocos, México, Áustria e em Roma, onde protestos de moradores locais contra filmagens de cenas de perseguição e contra mostrar para o mundo pixações e lixo nas ruas romanas levariam à mudança ou cancelamento de várias cenas. As cenas no México também deram problema, pois envolviam uma procissão do Dia dos Mortos, que teve que ser criada do zero, fechando uma praça e grande parte de seu entorno. Boatos correram de que o roteiro do filme teria sido alterado a pedido do Governo Mexicano, que oficialmente negou ter exigido ser retratado positivamente para liberar as filmagens.

Para a música-tema seria escolhida a banda Radiohead, que, ao invés de compor uma canção nova, enviaria à produção Man of War, gravada na década de 1990 mas jamais lançada. Quando os produtores reclamaram que essa música não poderia concorrer ao Oscar de Melhor Canção Original, eles gravaram uma chamada Spectre, que foi rejeitada pelos produtores por ser muito melancólica - e, segundo boatos, porque os produtores acharam que eles tinham feito de má vontade. Após "desconvidar" o Radiohead, os produtores convidariam o cantor Sam Smith, que pediria para que a palavra Spectre não estivesse nem no título, nem na letra da música, gravando Writing's on the Wall, que, apesar de uma recepção morna por parte da crítica, seria a primeira música-tema de um filme do 007 a alcançar o primeiro lugar da parada de sucessos britânica, além de conseguir um segundo Oscar de Melhor Canção Original consecutivo.

O roteiro do 25o filme de Bond começaria a ser escrito já em 2016. Após Mendes anunciar que preferiria trabalhar em outros projetos, Christopher Nolan seria convidado, mas recusaria; Dennis Villeneuve chegaria a ser anunciado, mas desistiria em dezembro de 2017, para filmar Duna. Em fevereiro de 2018, Danny Boyle aceitaria dirigir, mas com a condição de que o roteiro que vinha sido escrito até então fosse descartado, e um novo fosse escrito por John Hodge; Boyle queria que o filme fosse ambientado na Rússia e explorasse o passado de Bond, algo com o que Broccoli e Wilson não concordavam. Felizmente para eles, Boyle e Hodge se desentenderiam em agosto daquele ano, e ambos se demitiriam; Cary Joji Fukunaga seria comfirmado como diretor no mês seguinte, se tornando o primeiro norte-americano a dirigir um filme oficial do 007. O filme entraria oficialmente em produção em abril de 2019, com filmagens na Noruega e Jamaica, que tiveram de ser interrompidas após Craig torcer o tornozelo e precisar de uma pequena cirurgia.

Junto com o anúncio do início da produção, seria anunciado o título do filme, No Time to Die (007 Sem Tempo Para Morrer, no Brasil); o título seria muito criticado, mas Barbara Broccoli alegaria ser um legítimo título ao estilo dos de Fleming, que cria expectativa mas só faz sentido após o fim da história. Desde o início, Craig, então já com 51 anos, deixaria claro que esse seria seu último filme como Bond, recusando uma proposta de 100 milhões de dólares para fazer mais dois; com isso, Broccoli pediria aos roteiristas para que amarassem todas as pontas soltas dos demais filmes e fizessem desse um verdadeiro último capítulo, para que, ao invés de o seguinte simplesmente substituir o intérprete de Bond, conte uma nova história.

O vilão da vez é Lyutsifer Safin (Rami Malek), especialista em venenos que cria uma toxina capaz de matar somente quem tem um DNA específico, que deseja se vingar da Spectre porque toda sua família foi morta pelo Sr. White. Bond, que está aposentado e vivendo no Caribe, se envolve na história a pedido de Leiter, que pede ajuda para investigar o sequestro de um cientista envolvido em um projeto secreto, Valdo Obruchev (David Dencik), que teria sido levado para Cuba. Craig, Waltz, Seydoux (primeira Bond girl a estar em dois filmes), Fiennes, Harris, Whishaw, Kinnear e Wright (primeiro ator a interpretar Leiter três vezes) repetem seus papéis dos filmes anteriores; outros personagens de destaque são Logan Ash (Billy Magnussen), parceiro de Leiter na investigação; Primo (Dali Benssalah), capanga de Safin que tem um olho biônico; a agente da CIA de codinome Paloma (Ana de Armas), parceira de Bond em Cuba; e a nova agente 007 (Lashana Lynch), que substituiu Bond no MI6.

Após Craig se recuperar, as filmagens seriam retomadas, ocorrendo na Inglaterra, Itália, Cuba e Ilhas Faroes; No Time to Die seria o primeiro 007 filmado em IMAX, e o que teria o maior número de efeitos especiais gerados por computação gráfica, com quatro empresas, incluindo a Industrial Light & Magic, trabalhando na pós-produção. A música-tema ficaria a cargo de Billie Eilish, mais jovem artista, com 18 anos, ao gravar uma, e seria a terceira consecutiva a conquistar o Oscar de Melhor Canção Original, e segunda a ganhar o Grammy de Melhor Canção Escrita pra uma Mídia Visual. A música We Have All the Time in the World, de Louis Armstrong, originalmente da trilha de On Her Majesty's Secret Service, toca nos créditos finais do filme.

Quando começou a pandemia, No Time to Die estava em pós-produção; mesmo assim, sua estreia seria atrasada em mais de um ano, somente ocorrendo em 28 de setembro de 2021 no Reino Unido e em 8 de outubro nos Estados Unidos; esse seria o primeiro filme do 007 a ser distribuído nos cinemas pela Universal (exceto nos Estados Unidos, onde foi distribuído pela United Artists), que fez uma oferta melhor para a MGM quando a obrigatoriedade de distribuição pela Sony expirou em 2015. Com orçamento estimado em 301 milhões de dólares, que faz com que ele seja um dos filmes mais caros da história e de longe o 007 mais caro de todos, renderia 774,2 milhões ao somar as bilheterias do mundo inteiro, se tornando o quarto filme mais rentável do ano, mas, ainda assim, dando prejuízo para a MGM - que estimou que precisaria de pelo menos 800 milhões para cobrir todos os custos de produção e divulgação. A crítica seria extremamente positiva, apesar de achar o filme longo demais e a atmosfera sombria demais.

Com o fim da carreira de Craig como 007, já começaram as especulações sobre o futuro da franquia. Como é pouco provável que nunca mais façam nenhum, resta saber quem será o próximo ator a assumir o manto de James Bond; o preferido dos fãs é Idris Elba, que é britânico e seria o primeiro Bond negro, mas, sendo apenas três anos mais novo que Craig (Elba atualmente está com 52, Craig com 55), parece ser uma escolha pouco provável. A lista de prováveis candidatos é eclética e inclui Henry Cavill (que chegou a ser cogitado para Casino Royale), Aaron Taylor-Johnson, Harry Styles, Will Poulter, Tom Hardy, Richard Madden, Taron Egerton, Dev Patel, Theo James e até mesmo Robert Pattinson. Seja quem for, quando ele tiver feito uns cinco filmes, eu retomo essa série.

James Bond

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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Escrito por em 30.7.08 com 0 comentários

James Bond (IV)

E hoje é dia da quarta e última parte do post sobre James Bond! Após quase três décadas de sucessos no cinema, a década de 1990 não começava muito boa para o agente 007. Para começar, pouco após a estréia de Licence to Kill, em 1989, tiveram início várias batalhas judiciais, motivadas pela intenção da MGM de vender os direitos de distribuição de todos os filmes de James Bond para a francesa Pathé, que então os comercializaria para exibição em TVs de todo o mundo, algo com o qual a EON não concordou. Pouco depois, em 1991, faleceria Richard Maibaum, roteirista de 13 dos 16 filmes da série. Albert R. Broccoli, o produtor da série, teria graves problemas de saúde, que fariam com que ele se afastasse da produção do 17o filme, e acabariam culminando em seu falecimento, em 1996. Ainda em 1991, a União Soviética deixaria de existir, acabando com a Guerra Fria, principal componente dos filmes de agente secreto. Para completar, em 1994, Timothy Dalton, que assinara um contrato para três filmes, o romperia devido à demora para iniciar as filmagens do novo projeto, o que deixaria a EON mais uma vez procurando por um novo Bond.

Pierce BrosnanDesta vez, porém, eles procuraram pouco. Assumindo a produção, Barbara Broccoli, filha de Albert, e Michael G. Wilson, co-produtor dos últimos três filmes, decidiram contratar Pierce Brosnan, 42 anos, que já havia sido considerado para o papel quando Roger Moore deu lugar a Dalton. Barbara e Wilson também escolheram para a direção o neozelandês Martin Campbell, sem nenhum grande sucesso no currículo, mas considerado bastante promissor. Finalmente, para aproveitar a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, os produtores decidiram fazer do novo filme uma "modernização" de Bond - já considerado por muitos críticos como "ultrapassado" e "sem lugar no mundo atual". Assim surgiu GoldenEye.

GoldenEye (no Brasil, 007 contra GoldenEye), não era exatamente um reboot, mas se preocupava em trazer um Bond ainda no auge da carreira para a década de 1990, com todas as mudanças que ela pudesse representar para a vida de um agente secreto. Embora os filmes anteriores não tenham sido oficialmente desconsiderados, todo o elenco principal foi renovado, à exceção de Desmond Llewelyn, que, aos 81 anos, repetiu o papel de Q. M, por outro lado, seria interpretado pela famosíssima atriz Judi Dench, na primeira vez em que o chefe do MI6 seria mostrado como sendo uma mulher. Para o papel de Moneypenny, secretária de M, foi escolhida uma atriz com um nome no mínimo curioso, Samantha Bond.

GoldenEye foi o primeiro filme da série totalmente dissociado da obra de Ian Fleming, já que não usa absolutamente nenhum dos elementos - nem o título - dos livros escritos por ele. Talvez por isso, o título foi uma espécie de homenagem a Fleming, já que é o nome de sua casa de praia na Jamaica. O tal GoldenEye do filme, inclusive, não é uma pessoa, mas um satélite, capaz de emitir um pulso eletromagnético que destrói qualquer equipamento eletrônico em sua área de atuação. No filme pode não haver Guerra Fria, mas os russos continuam fazendo das suas, vendendo o tal satélite para um sindicato do crime, que planeja usá-lo para destruir Londres e iniciar um colapso financeiro. O homem por trás de tal plano é ninguém menos que Alec Trevelyan (Sean Bean), ex-agente 006 e amigo de Bond, que forjou sua própria morte antes de fundar o sindicato, auxiliado pela assassina Xenia Onatopp (Famke Janssen), que possui o desagradável hábito de estrangular suas vítimas com as coxas, e pelo programador Boris Grishenko (Alan Cumming), que trabalhava no projeto GoldenEye. Sem saber que enfrentará um ex-colega, Bond é enviado para deter os criminosos, e para tal tarefa contará com a ajuda, como de costume, de uma Bond Girl, Natalya Simonova (Izabella Scorupco), gênio da informática e sobrevivente de um ataque do GoldenEye. Bond também terá a ajuda de um agente da CIA, Jack Wade (Joe Don Baker), também enviado para deter o sindicato, e do ex-agente da KGB Valentin Zukovsky (Robbie Coltrane), que o ajuda a encontrar Trevelyan.

GoldenEye estreou em novembro de 1995, primeiro nos Estados Unidos, e quatro dias depois no Reino Unido. Apesar de ter recebido algumas críticas desfavoráveis, foi considerado um grande sucesso, eleito um dos melhores filmes da série, e rendeu um bom dinheiro: com orçamento de 58 milhões de dólares, rendeu quase 351 milhões, sendo 106 milhões só nos Estados Unidos, e 26 milhões só no primeiro fim de semana. Com música-tema composta por Bono e The Edge, do U2, e cantada por Tina Turner, GoldenEye também foi o primeiro filme de Bond a usar efeitos especiais gerados por computação gráfica, e o primeiro a ser adaptado para um video game, e um por sinal muito bom.

O enorme sucesso de GoldenEye, além de provar que Bond poderia sobreviver nos anos 1990, colocou uma enorme pressão sobre os produtores, que foram praticamente obrigados pela MGM a fazer com que o filme seguinte fosse, pelo menos, um sucesso equivalente. Alguns problemas, porém, afetariam seriamente a produção. Além da já citada morte de Broccoli, sete meses após a estréia de GoldenEye, Campbell se recusou a dirigir o filme, alegando não querer fazer dois filmes de Bond seguidos; para substituí-lo, foi escolhido Roger Spottiswoode. O roteiro também foi problemático, com sete roteiristas trabalhando simultaneamente. Finalmente, o orçamento foi mais do que estourado, e fechou em nada menos que 110 milhões de dólares.

O resultado disso tudo foi Tomorrow Never Dies (007 o Amanhã Nunca Morre no Brasil), que estreou em dezembro de 1997, primeiro no Reino Unido e uma semana depois nos Estados Unidos, rendendo 125 milhões de dólares na Terra do Tio Sam, e 333 milhões no mundo inteiro. A recepção dos críticos foi bastante diversa, com alguns considerando-o o melhor filme de Bond em muitos anos, outros achando que foi dinheiro jogador fora. A música-tema foi gravada por Sheryl Crow.

Judi Dench (M)Desta vez, Bond deve enfrentar um magnata das telecomunicações, Elliot Carver (Jonathan Pryce), que possui o singelo plano de usar sua influência na mídia para engenderar alguns eventos que levariam à Terceira Guerra Mundial, para obter vantagens financeiras, evidentemente. Carver possui dois capangas de respeito - o tecno-terrorista Henry Gupta (Ricky Jay) e o fortão Stamper (Götz Otto, que ganhou o papel dizendo no teste que era "grande, mau e alemão") - e, ainda por cima, é casado com uma ex-namorada de Bond, Paris (Teri Hatcher). A Bond Girl do filme é uma agente chinesa, Wai Lin (Michelle Yeoh), que também investiga as empresas de Carver, devido ao aumento de sua influência no sudeste asiático. Bond também conta mais uma vez com a ajuda de Jack Wade, e o filme introduz um novo personagem recorrente, o agente do MI6 Charles Robinson (Colin Salmon), que também participaria dos dois filmes seguintes.

Além dos problemas com a produção, Tomorrow Never Dies teve alguns problemas de elenco: Anthony Hopkins foi convidado para viver Carver, mas recusou. Natasha Henstridge seria a Bond Girl, que seria uma agente russa, mas, talvez para evitar clichês, foi substituída por Yeoh. Monica Belucci testou para o papel de Paris, mas os produtores preferiram Hatcher, que estava grávida de três meses quando as filmagens começaram, o que fez com que ela se atrasasse excessivamente para uma das filmagens, irritando Brosnan, que depois teria pedido desculpas ao saber de sua gravidez. Rumores de desentendimentos nas filmagens, aliás, foram constantes, e devidos principalmente a brigas entre Spottiswoode e o roteirista Bruce Feirstein.

As brigas foram tão intensas que Spottiswoode não quis voltar para uma nova seqüência, alegando cansaço. O 19o filme de Bond teria, portanto, um novo diretor, Michael Apted. The World is Not Enough (no Brasil, 007 o Mundo Não é o Bastante), que tirava seu nome do lema da família Bond, "Orbis non Sufficit", apresentado pela primeira vez tanto no livro quanto no filme de On Her Majesty's Secret Service, estrearia dois anos depois, em novembro de 1999, primeiro nos Estados Unidos, e uma semana depois nos Reino Unido. Curiosamente, para afastar de Bond a imagem de um "agente secreto ultrapassado", a MGM fez um acordo com a Mtv, que exibiu nos Estados Unidos diversos especiais sobre o agente na semana de lançamento do filme, totalizando mais de 100 horas de programação. Aparentemente, deu certo: com orçamento de 135 milhões de dólares, o filme rendeu 126 milhões só nos Estados Unidos, sendo 35,5 milhões só no primeiro fim de semana, e totalizou 361 milhões de dólares no mundo inteiro, se tornando o Bond mais rentável até então.

Em The World is No Enough, Bond investiga o assassinato de Robert King (David Calder), amigo pessoal de M e empresário do ramo do petróleo que planeja construir um oleoduto do Azerbaijão até o ocidente, passando pela Turquia. O principal suspeito do crime é o terrorista Renard (Robert Carlyle), que, no passado, seqüestrou a filha de Robert, Elektra (Sophie Marceau), e levou um tiro na cabeça disparado pelo 009, ficando com a bala alojada no cérebro, se movendo lentamente até que um dia ele morra. Imaginando que Renard talvez queira vingança, Bond decide proteger Elektra, e acaba descobrindo que o terrorista planeja roubar uma bomba nuclear soviética. Durante sua missão, Bond acaba conhecendo a física nuclear e Bond Girl Christmas Jones (Denise Richards), e contará com a ajuda mais uma vez de Valentin Zukovsky. The World is Not Enough foi o último filme onde Desmond Llewelyn, que faleceria cerca de um mês após a estréia, interpretou Q. Coincidentemente, neste filme Q se aposenta, e passa seu cargo para um assistente (John Cleese), que assumiria o papel de Q no filme seguinte.

Com música-tema interpretada pela banda Garbage, que criou um clip no melhor estilo agente secreto para divulgá-la, The World is Not Enough entrou para a história como o filme com a seqüência pré-título mais longa da série, com 14 minutos. Apesar da boa recepção do público, o filme foi desprezado pela crítica, que o elegeu como um dos piores da carreira de Bond. A Dra. Jones também foi muito criticada, sendo eleita a pior Bond Girl de todos os tempos pela revista Entertainment Weekly, com os críticos argumentando que Denise Richards não era uma atriz apropriada para interpretar uma física nuclear, e que um uniforme de camisetinha e shortinho não combinava com uma cientista.

Mas, como se aprende no cinema, não há filme tão ruim que uma seqüência não possa piorar. Em novembro de 2002, simultaneamente nos Estados Unidos e Reino Unido, estrearia Die Another Day (no Brasil, 007 Um Novo Dia Para Morrer), vigésimo filme da série. Nele, após matar Moon (Will Yun Lee), um Coronel renegado norte-coreano, Bond é capturado pelo inimigo, e submetido a 14 meses de tortura. Libertado em uma troca de prisioneiros, ao ser trocado por Zao (Rick Yune), homem de confiança de Moon, Bond decide descobrir quem seria o contato de Moon no ocidente, responsável por alertar Zao de que ele seria um agente britânico infiltrado, ato que levou à sua captura. Investigando Zao, Bond acaba chegando a Gustav Graves (Toby Stephens), magnata dos diamantes, que na verdade planeja usar um satélite carregado com eles e capaz de disparar um poderoso laser para auxiliar a Coréia do Norte a conquistar a Coréia do Sul e o Japão. Também durante a investigação, Bond se envolve com a agente norte-americana Jinx (Hale Berry), a Bond Girl do filme, e primeira Bond Girl negra da história, que também investiga Zao. O elenco conta ainda com Rosamund Pike como Miranda Frost, secretária de Graves; Michael Madsen como o chefe de Jinx; e Madonna, em uma participação especial no papel de uma instrutora de esgrima.

Dirigido por Lee Tamahori, e com música-tema de Madonna, Die Another Day comemorava o aniversário de 40 anos da série, trazendo referências a todos os dezenove filmes anteriores em suas cenas. Curiosamente, ele também usa alguns elementos do livro Moonraker não usados no filme, se tornando o primeiro filme de Bond desde Licence to Kill a trazer elementos dos livros de Fleming. Com o orçamento astronômico de 142 milhões de dólares, rendeu 432 milhões, sendo 161 milhões só nos Estados Unidos.

Mas, no meio do caminho, alguma coisa deu errado. A escolha da Coréia do Norte como vilã do filme e cenas de pouco tato onde os norte-americanos comandam tropas sul-coreanas fizeram com que o filme fosse odiado na Ásia, e boicotado em diversos países, dentre eles a Coréia do Sul. A quantidade absurda de merchandising durante o filme também foi pesadamente criticada, com alguns críticos o apelidando de Buy Another Day. Muitos também acharam que o foco nos efeitos especiais e nas traquitanas que Bond usa durante as missões foi exagerado, sobrando pouco espaço para desenvolver o enredo. No geral, Die Another Day é considerado um dos piores - ou até mesmo o pior, por alguns - filmes da série, embora um crítico ou outro tenha elogiado a direção de Tamahori ou as referências aos filmes anteriores.

Como aparentemente os roteiros originais não estavam mais dando certo, a EON decidiu tentar uma volta às origens, fazendo mais um filme inspirado nas obras de Fleming. Já desde 1999 a MGM havia conseguido os direitos de filmagem de Casino Royale, o único livro de Bond jamais adaptado pela EON, e, coincidentemente o primeiro de todos, lançado em 1953. Graças a uma adaptação não-oficial feita em 1967, os direitos de Casino Royale pertenciam à Sony, mas esta os trocou pelos direitos sobre um filme do Homem-Aranha, que na época pertenciam à MGM - curiosamente, em 2005 a Sony compraria a MGM, o que faria com que os direitos voltassem para ela.

Em 2004, quando foi dada a luz verde para a primeira adaptação "oficial" de Casino Royale, os roteiristas começaram a trabalhar em mais um filme com Brosnan no papel principal. Para aproveitar que se tratava do primeiríssimo livro, porém, a EON decidiu finalmente fazer um reboot da série, que ignoraria todos os vinte filmes já existentes, e começaria a contar a história de James Bond como 007 do início, e na época atual. Para isso, eles precisariam de um novo Bond. A lista especulativa chegou a ter mais de 200 nomes, incluindo os de Eric Bana, Hugh Jackman, Goran Visnic e Clive Owen; Colin Salmon chegou a ser seriamente considerado, o que faria com que Bond fosse, pela primeira vez, negro. O preferido dos produtores era Henry Cavill, mas, com apenas 22 anos, foi considerado jovem demais para o papel. Finalmente, após muita procura, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson decidiram apostar em Daniel Craig, ator inglês de 37 anos que estava fazendo muito sucesso no filme Nem Tudo é o que Parece (Layer Cake, no original).

Daniel CraigA escolha de Craig, porém, não foi pacífica: pela primeira vez, os fãs se revoltaram contra a decisão dos produtores, alegando que o ator não se enquadrava na descrição de Bond presente nos livros, principalmente por ser louro. Até mesmo um site, danielcraigisnotbond.com chegou a ser posto na ar para expressar seu descontentamento. Apesar disso, a EON manteve sua decisão, e o futuro provaria que ela o faria bem: a maioria dos críticos foi extremamente elogiosa quanto à interpretação de Craig, e aparentemente até os fãs acabaram se rendendo após o filme, já que ele foi confirmado também para os dois próximos.

Casino Royale (007 Cassino Royale no Brasil) é o primeiro filme da série a não começar com a característica seqüência do revólver; ao invés disso, ele começa com uma seqüência em preto-e-branco mostrando como Bond conseguiu a licença para matar, e o código 007. Logo após, aí sim, temos a seqüência do revólver, e então a abertura, considerada uma das mais criativas da série. A música tema, You Know My Name, interpretada por Chris Cornell, ex-vocalista do Audioslave e do Soundgarden, é a terceira a não ter o mesmo nome do filme, e a segunda a não fazer referência a este durante sua letra. Ela também substitui o famoso tema de Bond durante o filme, com este sendo executado apenas durante os créditos finais, como que dando partida na carreira do agente secreto.

No filme, um inexperiente Bond, recém-promovido a agente 00, seguindo pistas em uma missão, vai da África ao Caribe e então a Miami, onde evita um ataque terrorista contra um avião. Ao fazê-lo, ele coloca Le Chiffre (Mads Mikkelsen - "chiffre" significa "número" em francês), gênio matemático, mestre no xadrez e banqueiro de uma organização terrorista ligada ao misterioso Sr. White (Jesper Christensen), em uma posição complicada, precisando de dinheiro para devolver a seus clientes. Para recuperar o dinheiro, Le Chiffre arma um jogo de pôquer de apostas altíssimas - 10 milhões de dólares só para começar a jogar - no qual planeja usar seu intelecto superior para ganhar. O MI6 fica sabendo do jogo e decide inscrever Bond, também exímio jogador, com o plano de que, se Le Chiffre perder, o governo britânico lhe oferecerá proteção em troca de informações sobre os terroristas. Durante esta empreitada, Bond acaba conhecendo a Bond Girl Vesper Lynd (Eva Green), uma agente do Tesouro enviada para supervisionar a operação e fornecer o dinheiro necessário ao jogo, e o agente da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright, primeiro ator negro a interpretar Leiter em um filme oficial), que também foi enviado com o mesmo plano, mas não joga tão bem quanto Bond.

Judi Dench repete mais uma vez o papel de M, mas nem Q nem Moneypenny aparecem no filme - e, aparentemente, estão fora dos planos da EON nesta nova fase, pois também não estão previstos para os próximos. Para interpretar a Bond Girl foram cogitados nomes como Angelina Jolie, Charlize Theron e Audrey Tautou, que só não ficou com o papel por já estar filmando O Código Da Vinci. Antes das filmagens começarem, Quentin Tarantino expressou interesse em dirigir o filme, e Matthew Vaughn, diretor de Nem Tudo é o que Parece chegou a ser cogitado, mas no final a direção acabou ficando mais uma vez a cargo de Martin Campbell, de GoldenEye. Para que o filme tivesse o maior clima de 007 possível, os produtores decidiram restringir os efeitos em computação gráfica ao mínimo possível, e filmar todas as seqüências de ação "à moda antiga"; isto fez com que, pela segunda vez, uma cena de um filme de Bond fosse parar no Livro dos Recordes, já que na cena do capotamento o Aston Martin do 007 gira sete vezes em torno do próprio eixo.

Com orçamento de 130 milhões de dólares, Casino Royale estreou em novembro de 2006, simultaneamente no Reino Unido e Estados Unidos. Rendeu a considerável soma de 594,2 milhões, sendo 167 milhões só nos Estados Unidos, 40 milhões só no primeiro fim de semana. A recepção dos críticos foi excelente, embora alguns tenham achado o filme - especialmente o final - muito comprido. No geral, Casino Royale foi considerado um dos melhores filmes da franquia, e cumpriu sua missão de reiniciar a série com louvor.

Vesper LyndTanto que o próximo filme, Quantum of Solace (ainda sem título no Brasil, mas provavelmente não será a tradução literal, "a medida do consolo"), será uma seqüência direta dele. Dirigido por Marc Forster (de De Volta à Terra do Nunca) e com estréia prevista para o final deste ano, o filme tira seu título de um dos contos do livro For Your Eyes Only, embora o enredo seja totalmente diferente.

Após Quantum of Solace, ainda restam quatro títulos de contos de Ian Fleming ainda não usados para filmes: The Hildebrand Rarity, The Property of a Lady, Risico e 007 in New York. Usando um deles ou não, o próximo filme, com Craig mais uma vez no papel, já está previsto para 2010. Por enquanto, Bond vem conseguindo sobreviver ao fim da Guerra Fria. Para felicidade dos fãs, esperamos que o mundo sempre venha a precisar de um agente secreto com permissão para matar.

James Bond

Pierce Brosnan
Daniel Craig

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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Escrito por em 9.7.08 com 0 comentários

James Bond (III)

E hoje teremos a terceira parte do post sobre James Bond! Quando terminamos a anterior, Roger Moore tinha acabado de interpretar o agente 007 pela quarta vez, e todos os romances escritos por Fleming já haviam sido adaptados. Para décimo-segundo filme da série, Broccoli decidiu então adaptar um conto, For Your Eyes Only (no Brasil, 007 Somente para seus Olhos), que, na verdade, deveria ter se tornado o décimo-primeiro filme, mas acabou dando lugar a Moonraker, que tentou pegar uma carona no sucesso de Star Wars.

For Your Eyes Only, o livro, foi o oitavo da série, lançado em 1960, e trazia cinco contos: From a View to a Kill, Risico, The Hildebrand Rarity, Quantum of Solace e o que dá nome à obra. O filme é, na verdade, uma mistura de For Your Eyes Only e Risico, mas a maior parte do roteiro é original.

Bernard Lee (M)O filme tem uma das seqüências de abertura mais curiosas da série, onde Bond está visitando o túmulo de sua esposa quando é atacado por Blofeld (John Hollis, dublado por Robert Rietty). Bond consegue se livrar da armadilha do vilão e o mata, acabando com sua ameaça de uma vez por todas. Embora o nome de Blofeld não seja citado em momento algum, é claramente o vilão, e esta seqüência foi incluída por dois motivos: primeiro porque a "morte" de Blofeld em Diamonds Are Forever foi meio subentendida, propositalmente, já que a EON ainda tinha esperanças de usá-lo em um outro filme, mas, como Kevin McClory, o dono dos direitos sobre o personagem, jamais permitiu, eles decidiram demonstrar de uma vez por todas que o vilão estava morto. Em segundo lugar, porque havia um boato de que Moore, cansado do papel, não aceitaria repeti-lo, então a cena serviria para apresentar um novo Bond ao público. Moore acabou aceitando voltar ao papel, mas a cena foi mantida assim mesmo.

Dirigido por John Glen, que havia sido o editor dos dois filmes anteriores, For Your Eyes Only estreou em junho de 1981, primeiro no Reino Unido e dois dias depois nos Estados Unidos. Com orçamento de 28 milhões de dólares, rendeu mais de 195 milhões, sendo 55 milhões apenas na terra do Tio Sam. A música-tema era cantada por Sheena Easton, que inclusive aparece na abertura cantando-a, na primeira e única vez em que isto acontece na série. O filme também foi alvo de duas controvérsias, digamos, sexuais: seu cartaz, que mostra uma moça de costas, de biquini e com parte do bumbum à mostra, foi considerado muito ousado para a época, e teve de ser editado em várias partes do mundo. Além disso, há uma cena no filme em que várias mulheres de biquini estão em volta de uma piscina; após o lançamento do filme, uma delas, Caroline Cossey, revelaria ser na verdade um transexual. Cossey só aparece de relance em umas duas cenas, mas algumas publicações sensacionalistas chegaram a divulgar que ela teria tido "tórridas cenas de amor com 007".

Mas o filme também tem um enredo: Bond é enviado pelo MI6 para recuperar um sistema de comando de mísseis conhecido como ATAC, roubado durante um ataque misterioso. As pistas o levam à Grécia e ao contrabandista Milos Columbo (Chaim Topol), mas, para chegar a Columbo, Bond precisará da ajuda de seu ex-parceiro e hoje empresário Aristotle Kristatos (Julian Glover). Durante sua missão, como de costume, Bond acaba se envolvendo com uma Bond Girl, Melina Havelock (Carole Bouquet), cujos pais foram assassinados em um ataque relacionado à busca do ATAC, e que deseja vingança.

For Your Eyes Only foi o último filme de James Bond distribuído pela United Artists, que pouco depois de seu lançamento seria comprada pela MGM. Também foi o primeiro sem a presença de Bernard Lee, que interpretava M, e morreu no início de 1981. Em homenagem a ele, os produtores decidiram não substituí-lo por outro ator naquela ocasião, e, portanto, M não aparece no filme. A partir do seguinte, M seria interpretado por Robert Brown.

Já com mais de 50 anos, Moore começava a considerar seriamente não voltar a interpretar Bond, o que levou a EON a fazer testes com dois outros atores, Timothy Dalton e James Brolin. Um evento inesperado, porém, levou os produtores a investir novamente em Moore, e convencê-lo a fazer mais um filme. E este filme seria o que leva o curioso nome de Octopussy (e o não menos curioso 007 contra Octopussy no Brasil).

OctopussyAssim como seu antecessor, Octopussy tira seu nome de um conto, o principal do livro Octopussy and The Living Daylights, décimo-quarto e último da série, publicado dois anos após a morte de Fleming, em 1966. Sua primeira edição trazia apenas dois contos (evidentemente, Octopussy e The Living Daylights), mas a partir da segunda edição foi incluído The Property of a Lady, e, em 2002, o último conto de Fleming que permanecia inédito, 007 in New York - a única de suas histórias a trazer "007" no nome.

A rigor, Octopussy, o filme, é uma mistura de Octopussy, o conto, e The Property of a Lady; na realidade, porém, o roteiro é quase todo inédito, e muito pouco é retirado destes contos. Ao contrário do que o título em português possa sugerir, Octopussy (Maud Adams) não é a vilã do filme, mas a Bond Girl, uma rica dona de circo e contrabandista de jóias nas horas vagas, à qual Bond deve se unir para impedir mais um plano de destruição do mundo pelo uso de armas nuclares. Adams, que já havia interpretado Andrea Anders em The Man with the Golden Gun, não foi a primeira escolha para o papel - os produtores, inclusive, relutaram muito em chamá-la, pois temiam uma associação entre as duas personagens - mas acabou ficando com ele após as recusas de Sybil Danning, Faye Dunaway e Persis Khambatta.

No filme, Bond deve substituir o agente 009 em uma missão que o levará até a Índia, atrás do príncipe afegão Kamal Khan (Louis Jourdan), que trabalha para o General Orlov (Steven Berkoff), que a princípio apenas rouba dos soviéticos jóias e relíquias da época dos czares, mas na verdade planeja usar armas nuclares para obrigar toda a Europa a se desarmar - com um propósito maligno em mente, evidentemente. Octopussy, a princípio, é aliada de Khan, mas acaba se bandeando para o lado de Bond. Bond também conta com a ajuda do indiano Vijay, interpretado pelo tenista Vijay Amritraj, que, em uma curiosa cena bastante criticada, toca a música-tema do 007 em uma flauta, para mostrar a Bond que ele é um contato do MI6.

Octopussy foi dirigido mais uma vez por John Glen. A música-tema, All Time High, cantada por Rita Coolidge, foi a segunda a não ter o mesmo nome do filme, e a primeira a não ter o nome do filme cantada em nenhum momento em sua letra. O filme, que estreou em junho de 1983, primeiro no Reino Unido e quatro dias depois nos Estados Unidos, custou 35 milhões de dólares, e foi um grande sucesso de bilheteria, rendendo 187,5 milhões no mundo inteiro, sendo quase 68 milhões apenas nos Estados Unidos. A crítica, porém, não gostou tanto assim, reclamando de várias cenas, e considerando o filme longo e confuso.

O evento inesperado que levou Moore a fazer seu sexto filme no papel de 007 foi nada menos que o pior pesadelo da EON tornado realidade: talvez irritado com a presença de Blofeld em For Your Eyes Only, McClory decidiu fazer valer seus direitos, e filmar um 007 paralelo, não-oficial. E com Sean Connery no papel do agente - eis porque Moore não poderia ser substituído ainda, já que a EON temia que um ator novato não conseguisse fazer frente ao "Bond original". Assim, curiosamente, dois filmes de James Bond foram produzidos quase que simultaneamente, e dois estrearam em um único ano. Para batizar seu filme, McClory ainda foi engraçadinho e usou a frase Never Say Never Again ("nunca diga nunca novamente"), que teria sido proferida pela esposa de Connery quando ele declarou que nunca mais aceitaria interpretar Bond outra vez após Diamonds Are Forever. Embora Never Say Never Again costume ser considerado até pelos fãs de 007 como um ótimo filme, na "batalha dos Bonds" ele acabou perdendo para Octopussy, já que custou 36 milhões de dólares e rendeu 160 milhões, sendo 55 milhões nos Estados Unidos. Alguns críticos também acharam que Connery, aos 53 anos, estava "muito velho" para o papel, mas, na verdade, ele é três anos mais novo que Moore.

Desmond Llewelyn (Q)Essencialmente, Never Say Never Again (no Brasil, 007 Nunca Mais Outra Vez) é uma refilmagem de Thunderball, mas, embora o enredo seja o mesmo, o filme é bastante diferente. Nele, a organização criminosa SPECTRE, liderada por Ernst Stavro Blofeld (Max von Sydow) rouba dois mísseis nucleares norte-americanos, e exige bilhões de dólares para não usá-los contra o mundo. Bond é então enviado para as Bahamas, onde enfrentará um dos agentes da SPECTRE, Maximilian Largo (Klaus Maria Brandauer), tentará escapar da perigosa Fatima Blush (Barbara Carrera) e se envolverá com a Bond Girl Domino Petachi (Kim Basinger), namorada de Largo; tudo isso contando com a ajuda do agente da CIA Felix Leiter (Bernie Casey) e do atrapalhado Nigel Small-Fawcett (Rowan Atkinson, conhecido por aqui como Mr. Bean). Curiosamente, neste filme Bond é considerado um agente velho e à beira da aposentadoria, e M (Edward Fox) só aceita enviá-lo em missão quando descobre que a SPECTRE está envolvida. Também curiosamente, o filme parece ignorar os demais, já que Bond e Blofeld não se conhecem.

Dirigido por Irvin Kershner (de O Império Contra-Ataca), Never Say Never Again deveria ter sido lançado na mesma época de Octopussy, para fazer uma concorrência direta; alguns atrasos na produção, porém, fizeram com que ele só fosse lançado em outubro de 1983, primeiro nos Estados Unidos e oito dias depois no Reino Unido, distribuído pela Warner Bros. Por não ser um filme "oficial", não conta com a tradicional seqüência do revólver nem com a igualmente tradicional abertura, embora durante os créditos iniciais seja executada uma música-tema cantada por Lani Hall. O tema de 007, evidentemente, não é tocado em nenhum momento do filme. Graças à diferença de três meses entre os dois lançamentos, um dos filmes não roubou público do outro, a EON não sofreu tanto quanto imaginava, e a série oficial seguiria seu rumo normalmente.

O décimo-quarto filme produzido pela EON estrearia em junho de 1985, simultaneamente nos Estados Unidos e Reino Unido, com o nome de A View to a Kill (no Brasil, 007 na Mira dos Assassinos). Assim como Octopussy, ele era uma adaptação de um conto que tinha pouquíssimo a ver com esse conto, no caso From a View to a Kill, do livro For Your Eyes Only. Dirigido mais uma vez por Glen, e com a música-tema a cargo do Duran Duran, o filme foi um grande sucesso comercial, rendendo 152,4 milhões de dólares no mundo inteiro, sendo 50,3 milhões apenas nos Estados Unidos - bem mais que os 30 milhões que custou. Apesar disso, foi um retumbante fracasso de crítica, costuma ser lembrado como um dos piores, e foi o filme que Moore menos gostou de fazer, principalmente por, aos 58 anos, já se achar velho demais para o papel.

No filme, o primeiro produzido em dupla por Albert R. Broccoli e seu enteado Michael G. Wilson, Bond viaja mais uma vez para os Estados Unidos, desta vez para a Costa Oeste, onde deverá deter o megalomaníaco da vez, Max Zorin (Christopher Walken), presidente de uma indústria fabricante de microchips, que planeja nada menos que causar um terremoto no Vale do Silício, o que acabaria com todas as demais empresas do setor, deixando-o com um monopólio. Antes do papel ser oferecido a Walken, ele o foi a David Bowie e Sting, que o recusaram. Talvez querendo ter um ídolo da música no filme de qualquer jeito, os produtores acabaram escalando a cantora Grace Jones para o papel de May Day, namorada de Zorin e sua principal capanga. Outras curiosidades do elenco incluem uma participação especial de Dolph Lundgreen, à época namorado de Jones, como um agente soviético, e uma brevíssima aparição de Maud Adams, que visitava seu amigo Moore em um dia de gravações e acabou sendo escalada como figurante, se tornando a única atriz a aparecer em três filmes da série. Mais do que ela, só Lois Maxwell, que em A View to a Kill interpretou Moneypenny, a fiel secretária de M, pela décima-quarta e última vez, sendo substituída nos dois filmes seguintes por Caroline Bliss. Ah, sim, o filme também tem uma Bond Girl, Stacey Sutton (Tanya Roberts), geóloga neta de um industrial do petróleo cuja companhia foi assimilada fraudulentamente pela Zorin.

Lois Maxwell (Moneypenny)A View to a Kill foi o sétimo e último filme de Roger Moore como 007, que, ao fim de seu contrato, evidentemente não tinha interesse nenhum em renová-lo. Assim, começou uma nova busca por um novo Bond, onde foram considerados Lewis Collins, Sam Neil, Pierce Brosnan - que quase ficou com o papel, não fosse ele o protagonista da série de detetive Remington Steele, da NBC - e Timothy Dalton, que após bater na trave por pelo menos duas vezes, finalmente ficou com o papel, aos 40 anos de idade.

Foi com a entrada de Dalton que começou uma história, que vocês já devem ter ouvido falar, de que os filmes de 007 são "atemporais", ou seja, eles sempre são ambientados na época atual, e Bond sempre tem mais ou menos a mesma idade, sendo irrelevante o ano em que ele nasceu ou entrou para o MI6. Na verdade, como Moore é três anos mais velho que Connery, e George Lazenby não é tão mais novo assim que os dois, pode-se muito bem considerar que os primeiros catorze filmes mostravam o mesmo Bond, que foi envelhecendo normalmente ao longo dos anos. Mas quando o papel passou para Dalton, vinte anos mais jovem que Moore, os produtores se viram diante de uma situação para a qual teriam três saídas: a primeira, fazer com que todos os filmes subseqüentes fossem de época, ambientados durante as décadas de 60 ou 70; a segunda, dar um reboot, como se os demais filmes não tivessem acontecido, e Bond estivesse no auge de sua carreira na época atual; e a terceira, ignorar isso tudo e continuar filmando como se ninguém fosse perceber que Bond rejuvenesceu. Para muitos, a escolha desta terceira opção foi a responsável pela falta de interesse dos fãs mais antigos pelos filmes mais novos.

Se bem que o décimo-quinto filme, The Living Daylights (no Brasil, 007 Marcado para a Morte), é até bom. Inspirado no conto de mesmo nome do livro Octopussy and The Living Daylights, mais uma vez o filme tinha bem pouco a ver com o conto. Nele, o 007 é designado para proteger o General soviético Georgi Koskov (Jeroen Krabbé), que planeja desertar, levando aos britânicos a informação que o General Pushkin (John Rhys-Davies), substituto de Gogol, teria ressucitado a operação smiert spionom, na qual a KGB mataria sistematicamente diversos agentes do MI6 ao redor do mundo, enfraquecendo a agência. Enquanto investiga a operação, Bond acaba descobrindo um esquema de tráfico de armas e drogas que envolve o norte-americano Brad Whitaker (Joe Don Baker). A Bond Girl do filme, Kara Milovy (Maryam d'Abo), é uma violoncelista tchecoslovaca namorada de Koskov, que acaba se bandeando para o lado de Bond quando descobre que ela também é considerada desertora e passível de punição. The Living Daylights foi o último filme com a participação do General Gogol, já que Walter Gotell, que o interpretava, teve de se afastar por motivos de saúde. O filme também traz a sexta participação de Felix Leiter, interpretado pelo sexto ator diferente, John Terry.

Timothy DaltonQuarto filme dirigido por Glen, The Living Daylights teve um orçamento de 40 milhões de dólares, e estreou em junho de 1987, rendendo 51 milhões nos Estados Unidos, e 191 milhões no mundo inteiro. A música-tema foi interpretada pela banda a-ha, mas The Living Daylights foi o primeiro filme da série a utilizar uma música diferente da música-tema durante os créditos finais, no caso, If There Was A Man, interpretada por Chrissie Hynde, dos Pretenders. O filme gerou pelo menos um incidente curioso: o esquema de Whitaker utiliza veículos e embalagens da Cruz Vermelha para traficar ópio, o que fez com que a famosa organização humanitária ameaçasse processar a MGM, e rendeu um aviso na abertura do filme de que o símbolo da Cruz Vermelha foi usado sem autorização.

Seguindo o intervalo-padrão de dois anos, o décimo-sexto filme de Bond, Licence to Kill (007 Permissão para Matar no Brasil), quinto e último dirigido por Glen, estrearia em julho de 1989. Primeiro filme da série oficial a não tirar seu título de uma das histórias escritas por Fleming, Licence to Kill pega alguns elementos de The Hildebrand Rarity e outros de Live and Let Die que ficaram de fora da primeira adaptação. Originalmente, o filme iria se chamar Licence Revoked ("licença revogada"), mas o título foi trocado após uma pesquisa nos Estados Unidos apontar que as pessoas o associavam com a perda da carteira de motorista.

O motivo para a escolha do nome está no enredo: Bond está nos Estados Unidos para o casamento de seu amigo Leiter (David Hedison, que já o havia interpretado em Live and Let Die, o primeiro a repetir o papel), e ambos, antes da cerimônia, capturam o traficante Franz Sanchez (Robert Davi). No dia seguinte, Sanchez suborna um agente para deixá-lo escapar, e vai em busca de vingança, matando a esposa de Leiter e ferindo-o seriamente. Diante disso, quem parte em busca de vingança é Bond, que, ao desobedecer uma ordem de M para ir em missão a Istambul, tem sua permissão para matar revogada. Mas isto não impedirá o ex-007 de ir em busca de Sanchez, contando com a ajuda da ex-piloto da CIA e Bond Girl Pam Bouvier (Carey Lowell). O elenco conta ainda com Benicio del Toro no papel de Dario, capanga de Sanchez; e Talisa Soto como Lupe Lamora, namorada do vilão.

Com a música-tema cantada por Gladys Knight, e orçamento de 32 milhões de dólares, Licence to Kill rendeu 156 milhões no mundo inteiro, mas apenas 34 milhões nos Estados Unidos, sendo considerado um fracasso de bilheteria. Alguns atribuem este valor à pesada concorrência, já que o filme estreou próximo a Batman, Indiana Jones e a Última Cruzada, Jornada nas Estrelas V, Máquina Mortífera 2, O Segredo do Abismo, Os Caça-Fantasmas 2 e Querida, Encolhi as Crianças. Para evitar que isto se repetisse, a EON decidiu que dali por diante nenhum filme subseqüente de James Bond estrearia no verão norte-americano.

Licence to Kill foi o último filme da série produzido por Broccoli, que se afastaria da produção do seguinte devido a problemas de saúde, e faleceria em 1996. Pouco após sua estréia, tiveram início várias batalhas judiciais, motivadas pela intenção da MGM de vender os direitos de distribuição de todos os filmes de James Bond para a francesa Pathé, que então os comercializaria para exibição em TVs de todo o mundo, algo com o qual a EON não concordou. Tais batalhas acabaram atrasando o lançamento do próximo título da série em seis anos, o maior intervalo até hoje sem filmes de Bond nos cinemas. Mas isso já é assunto para a quarta e última parte deste post, em breve!

James Bond

Roger Moore
Timothy Dalton

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

Escrito por em 18.6.08 com 0 comentários

James Bond (II)

Hoje é o dia da segunda parte do post sobre James Bond! Quando deixamos nosso agente 007 pela última vez, ele havia derrotado seu arqui-inimigo Blofeld no Japão em You Only Live Twice. Logo depois disso, o contrato do ator Sean Connery, que valia para cinco filmes, chegou ao fim. Incomodado com o assédio da imprensa e dos fãs, e querendo se dedicar a novos projetos, ele decidiu não renová-lo, o que fez com que os produtores tivessem de correr atrás de um novo Bond.

A primeira opção de Broccoli para substituir Connery era Timothy Dalton, 21 anos na época, que recusou por se considerar muito jovem para interpretar um agente secreto experiente. A primeira opção de Satlzman era Roger Moore, que não pôde aceitar por já estar envolvido com a série de TV O Santo. Diante disso, convites foram feitos a Jeremy Brett, John Richardson, Hans de Vries, Robert Campbell e Anthony Rogers, mas o papel acabou ficando com o australiano George Lazenby, 29 anos, descoberto por Broccoli em um comercial da Rolex. Lazenby aceitou a proposta oferecida, e assinou contrato para sete filmes.

George LazenbyA estréia de Lazenby no papel de Bond aconteceu em On Her Majesty's Secret Service (traduzido no Brasil para 007 a Serviço Secreto de Sua Majestade), adaptação do décimo-primeiro livro da série, de 1963. Na verdade, OHMSS estava em uma espécie de fila de espera: a intenção da EON era lançá-lo após Goldfinger, mas, como acabaram chegando a um acordo quanto aos direitos de Thunderball, optaram por este. OHMSS então seria lançado após Thunderball, mas a produção optou por You Only Live Twice por encontrar dificuldades com as locações, que na época das filmagens não tinham neve suficiente para algumas das cenas do filme. Após algum planejamento, OHMSS finalmente conseguiu ser filmado para estrear em dezembro de 1969, pela primeira vez simultaneamente nos Estados Unidos e Reino Unido.

O vilão de OHMSS é mais uma vez Ernst Stavro Blofeld, o líder da SPECTRE, mas desta vez interpretado por Telly Savalas, que alguns anos mais tarde ficaria famoso por seu papel na série Kojak. Seu mais recente plano mailgno envolve passar mulheres por lavagem cerebral e utilizá-las para espalhar uma praga que destruirá a agricultura do mundo inteiro, a menos, é claro, que lhe paguem um resgate. OHMSS também traz a Bond Girl mais bonita da série na minha opinião, a Condessa Teresa di Vicenzo (Diana Rigg, da série Os Vingadores), apelidada Tracy, com quem, acreditem ou não, Bond se casa no final do filme.

Além de um novo Bond e de um novo Blofeld, OHMSS também tem um novo diretor, Peter Hunt, que havia sido editor de Thunderball e diretor adjunto de You Only Live Twice. Hunt e a EON decidiram por fazer o filme o mais parecido possível com o livro, o que acabou causando alguns erros de continuidade, como o fato de que Bond e Blofeld não se reconhecem quando se encontram, apesar de terem ficado cara a cara no filme anterior - o que ocorre porque o livro de OHMSS é anterior ao de You Only Live Twice. Para resolver esta discrepância, e também explicar por que Bond mudou de cara, na primeira versão do roteiro o filme começava com Bond passando por uma cirurgia plástica, para poder se infiltrar no covil da SPECTRE sem ser reconhecido; após uma revisão, os produtores decidiram abandonar esta idéia e ignorar a troca de atores, como se Bond sempre tivesse sido Lazenby, talvez prevendo que outros atores poderiam interpretar o 007 no futuro, e assim não faria sentido submeter o agente a tantas plásticas.

OHMSS foi o primeiro 007, desde Dr. No, a ter uma música-tema instrumental, composta por John Barry. Na trilha sonora também estava presente a canção We Have All the Time in the World, última gravada por Louis Armstrong antes de sua morte. O filme foi bem sucedido nas bilheterias, rendendo somente na Terra do Tio Sam 22,8 milhões de dólares, e mais de 87 milhões no mundo inteiro, pagando, com sobras, os 7 milhões que gastou para ficar pronto; as críticas, porém, não foram muito favoráveis, e logo após a estréia começaram a surgir rumores de que Hunt, Rigg e Lazenby teriam se desentendido durante as filmagens, rumores estes principalmente motivados por uma parte do filme onde Bond, para enganar Blofeld, finge ser Sir Hilary Bray, personagem interpretado por George Baker, e onde Lazenby acabou sendo dublado por Baker, segundo os rumores, porque os produtores não acreditavam que Lazenby daria conta na atuação.

Verdade ou mentira, todos estes rumores acabaram desmentidos pela equipe do filme, com Hunt inclusive se oferecendo para dirigir Lazenby novamente no próximo filme da série. O australiano, porém, jamais repetiria o papel de 007: convencido por seu empresário de que filmes de agente secreto não fariam sucesso na década de 1970, Lazenby rompeu seu contrato em 1971, antes das filmagens do sétimo filme começarem.

Tracy BondSem Lazenby, os produtores consideraram convidar John Gavin, Michael Gambon, e até mesmo Adam West, o Batman da série de TV, para interpretar Bond. Irritados, os executivos da United Artists deram uma espécie de ultimato: ou Connery voltava para o papel, ou não haveria filme algum. Aos 41 anos, Connery não cogitava interpretar o 007 novamente, mas a UA insistiu que ele deveria, e que dinheiro não era problema. Após muitas negociações, Connery aceitou voltar em troca da promessa de que a UA cobriria todos os gastos dos próximos dois filmes estrelados por ele, e do equivalente hoje a 20 milhões de dólares, com os quais fundou a Scottish International Education Trust, que até hoje possibilita que jovens atores escoceses estudem interpretação e consigam seus primeiros papéis sem ter de sair da Escócia.

Com Connery de volta à ativa, começaram as filmagens de Diamonds Are Forever (007 os Diamantes são Eternos no Brasil), adaptação do quarto livro, de 1956, o mais antigo adaptado até então. E uma adaptação bem livre: diferentemente de OHMSS, que era fiel ao ponto de causar erros de continuidade, Diamonds Are Forever só usava o enredo central do livro, mudando praticamente todo o resto. A intenção da EON era fazer com que o filme fosse uma espécie de reboot, contando as origens do 007, mas esta idéia acabou abandonada e trocada por exatamente o contrário, o confronto final entre Bond e Blofeld, que morreria no final do filme, dando fim à SPECTRE. Curiosamente, este acabou sendo realmente o último filme com a organização criminosa, já que pouco depois a justiça britânica, em mais um julgamento do caso Thunderball, decidiria que o criador da SPECTRE era Kevin McClory, e não Ian Fleming, o que essencialmente proibia a EON de usá-la em seus filmes sem negociar os direitos com McClory.

Desta vez a missão de Bond é investigar o desaparecimento de uma grande quantidade de diamantes, supostamente contrabandeados, mas que não reapareceram no mercado, e ainda podem estar ligados a uma série de assassinatos. Para isso, o 007 terá de se disfarçar de contrabandista, e agir em conjunto com um dos contatos da quadilha, a bela Tiffany Case (Jill St. John), a Bond Girl do filme. Seguindo o plano, Bond acaba indo mais uma vez aos Estados Unidos, no caso para Las Vegas, onde será auxiliado novamente pelo agente da CIA Felix Leiter (interpretado pelo quarto ator diferente, Norman Burton). Com o tempo, Bond acaba descobrindo que os diamantes fazem parte do mais recente plano maligno de Blofeld (também interpretado pelo quarto ator diferente, Charles Gray, que nem é careca), que planeja usá-los para construir um laser gigante, equipar um satélite com ele, e dispará-lo contra as principais cidades do planeta, a menos, é claro, que o mundo lhe pague um resgate.

A direção de Diamonds Are Forever ficou a cargo de Guy Hamilton, retornando após dirigir Goldfinger. Também retornando de Goldfinger, a música-tema ficou a cargo de Shirley Bassey, primeira a interpretar músicas-tema de dois 007. Jill St. John foi a primeira atriz norte-americana a interpretar uma Bond Girl, e ficou com o papel depois que Raquel Welch, Jane Fonda e Faye Dunaway mais uma vez foram descartadas por motivos vários. Inicialmente ela interpretaria outro personagem, Plenty O'Toole, mas o diretor gostou tanto de seu teste para o papel que a colocou para interpretar Case, ficando O'Toole com Lana Wood, que, apesar de quase não aparecer no filme, se tornou uma das preferidas dos fãs.

Estreando em dezembro de 1971, primeiro nos Estados Unidos, e 13 dias depois no Reino Unido, o filme custou 7,2 milhões de dólares, rendeu 43 milhões nos Estados Unidos, e 116 milhões no mundo inteiro. As críticas, porém, foram altamente desfavoráveis, principalmente devido a algumas cenas nonsense, como a em que Bond foge pelo deserto pilotando um módulo lunar. Após as filmagens, Connery chegou a prometer que nunca mais interpretaria James Bond outra vez.

Assim, a EON voltou a procurar um James Bond. Após considerar Julian Glover, Jeremy Breet e Michael Billington, os produtores decidiram convidar Roger Moore mais uma vez, que desta vez aceitou, se tornando o novo 007 aos 45 anos de idade. Assim como Lazenby, Moore também assinou um contrato para sete filmes; a diferença foi que ele realmente fez todos os sete, se tornando o recordista em interpretações oficiais de James Bond.

Roger MoorePara se tornar o oitavo filme, a EON escolheu o segundo livro, de 1954. Live and Let Die (no Brasil, Com 007 Viva e Deixe Morrer) leva Bond mais uma vez ao Caribe e aos Estados Unidos, desta vez na trilha do Dr. Kananga (Yaphet Kotto), nativo da fictícia nação de San Monique, aparentemente o respeitável dono de uma cadeia de restaurantes em Nova Iorque e Nova Orleans, mas que também é o líder de uma das mais violentas gangues do Harlem, possui um guarda-costas com mão de gancho (Julius Harris) e um plano maligno segundo o qual distribuirá duas toneladas de heroína de graça, falindo todos os demais traficantes da droga e conseguindo um monopólio no setor. Como bom caribenho, Kananga também é adepto do vodu, aliado do Barão Samedi (Geoffrey Holder), que aparenta ser o deus do vodu em pessoa; e namorado de Solitaire (Jane Seymour), que tem o poder de prever o futuro, dando uma imensa vantagem ao vilão. Como se tudo isso já não bastasse, Kananga ainda pode ser mais velho do que aparenta, pois diz ter usado os serviços de vidência da mãe de Solitaire, antes dela perder seus poderes junto com sua virgindade. Como Solitaire é a Bond Girl do filme, algo me diz que em breve ele terá de arrumar outra vidente.

Live and Let Die foi o primeiro filme de Bond com vilões negros, e o primeiro com uma atriz negra em um papel de destaque, Gloria Hendry, que interpreta a agente da CIA Rosie Carver. A escolha deste livro para virar filme neste momento, aliás, foi por causa disso mesmo, já que no início da década de 1970 o movimento negro começava a ganhar força, e os filmes de blaxploitation faziam grande sucesso. O próprio Live and Let Die tem vários clichês do blaxploitation, como gírias da época, penteados black power e aqueles carrões de luxo usados pelas gangues. Os produtores chegaram até a cogitar que Solitaire fosse negra, e convidaram Diana Ross para o papel, mas depois decidiram seguir o que está no livro e mantê-la branca. Como parte do filme é ambientada nos Estados Unidos, Bond ganha mais uma vez a ajuda de Felix Leiter, interpretado, acreditem se quiserem, pelo quinto ator diferente, David Hedison - e depois ainda tiveram a idéia da plástica para ninguém reclamar que Bond mudou de cara.

Guy Hamilton mais uma vez dirigiu o filme, e a música-tema ficou a cargo de Paul McCartney e os Wings, na primeira vez em que uma banda de rock gravava para o 007. O filme consumiu 7 milhões de dólares para ficar pronto, boa parte gasta na cena da perseguição de lanchas, onde Bond pula por sobre o carro do xerife utilizando um banco de areia como rampa. Só para gravar esta perseguição foram usados 26 barcos, sendo que 17 foram destruídos durante os ensaios, mas sua cena mais famosa ficou pronta sem nenhum truque de edição, rendendo à equipe, inclusive, um recorde mundial de salto mais longo com um barco, de 33 metros e meio. Live and Let Die foi lançado em junho de 1973 nos Estados Unidos, e quase um mês depois no Reino Unido. Rendeu 35,4 milhões de dólares na América e 162 milhões no mundo todo, sendo bastante elogiado pelas críticas, apesar de alguns terem reclamado que faltava um vilão megalomaníaco ao estilo dos primeiros filmes.

O filme seguinte, porém, não sofreria desta falta: The Man with the Golden Gun (007 contra o Homem da Pistola de Ouro no Brasil), adaptação do décimo-terceiro livro da série, de 1965, primeiro lançado após a morte de Ian Fleming, colocava Bond contra Francisco Scaramanga (Christopher Lee), assassino profissional de mira infalível, que cumpre seus contratos com balas de ouro disparadas por sua famosa pistola de ouro, e está de posse de um dispositivo conhecido como Agitador Solex, capaz de concentrar a energia do Sol, o qual ele planeja usar para chantagear o planeta, evidentemente. Segundo o planejamento da EON, TMwtGG seria filmado logo após You Only Live Twice (o que provavelmente transformaria Scaramanga em um agente da SPECTRE), mas como ele é ambientado no sudeste asiático e o Camboja estava em guerra civil na época, acabou sendo adiado. Coincidentemente, isso fez com que ele fosse lançado em um momento bastante propício, pois a Europa estava passando por uma crise energética no início dos anos 1970, e este evento pôde ser explorado no filme, já que o Agitador Solex também armazena energia solar para gerar eletricidade.

TMwtGG foi o quarto e último filme da série dirigido por Hamilton. Além de Moore e Lee, o elenco conta com Maud Adams no papel de Andrea Anders, esposa de Scaramanga, e com Hervé Villechaize, conhecido por aqui como o Tattoo da Ilha da Fantasia, no papel de Nick Nack, capanga do vilão. A Bond Girl da vez é Mary Goodnight, interpretada por Britt Ekland, ex-mulher de Peter Sellers e ex-caso de Rod Stewart. A música-tema foi cantada pela escocesa Lulu, que cantara a música-tema de Ao Mestre com Carinho; curiosamente, o roqueiro Alice Cooper chegou a gravar uma versão, mais tarde rejeitada pelos produtores.

Estreando simultaneamente nos Estados Unidos e Reino Unido em dezembro de 1974, TMWTGG foi o 007 mais caro até então, custando 13 milhões de dólares. Nos Estados Unidos ele só rendeu 21 milhões, e 97,6 milhões no mundo inteiro, sendo que parte da culpa pelo mau desempenho caiu sobre o tom levemente humorístico do filme. Até hoje as críticas são bastante divididas, com alguns considerando o filme como um dos melhores, outros como um dos piores da série.

Scaramanga e BondTMwtGG foi o último filme produzido em parceria por Broccoli e Saltzman; após seu lançamento, Saltzman decidiu abandonar a EON, e vendeu sua parte para a United Artists. Isto fez com que os direitos sobre a obra de Fleming fossem rediscutidos e renegociados, o que acabou atrasando a produção do filme seguinte.

Somente em julho de 1977, primeiro no Reino Unido, e uma semana depois nos Estados Unidos, chegaria às telas de cinema The Spy Who Loved Me (no Brasil, 007 o Espião que me Amava), décimo filme da série e terceiro com Moore no papel de Bond. Embora exista um livro escrito por Fleming com o título The Spy Who Loved Me - também o décimo da série, lançado em 1962 - o filme não é uma adaptação deste, porque o próprio Fleming odiava o livro, e, ao negociar os direitos, só os vendeu com a condição de que seu título pudesse ser aproveitado, mas não sua história, considerada por ele mesmo muito explícita sexualmente, e com pouca participação de Bond, que só aparece no livro lá no capítulo 10, e termina sua participação no início do 15o e último capítulo. Assim, The Spy Who Loved Me pode ser considerado como o primeiro filme de 007 com um roteiro totalmente original, embora utilize pelo menos uma idéia do livro: um bandido com dentes de aço, no caso do filme o capanga Jaws (que no Brasil já foi traduzido para "Dentes-de-Aço", "Mandíbula" e "Tubarão"), um dos personagens mais famosos da série, interpretado por Richard Kiel.

O enredo envolve mais um vilão megalomaníaco, Karl Stromberg (Curt Jürgens), que rouba mísseis nucleares soviéticos e britânicos para colocar em prática um singelo plano: aniquilar toda a humanidade da face da Terra, e reconstruir a civilização à sua maneira no fundo do mar, começando por sua fortaleza submarina, chamada Atlantis. Cabe a Bond, trabalhando em parceria com a agente soviética e Bond Girl Anya Amasova (Barbara Bach), invadir Atlantis, recuperar as ogivas, cair na porrada com Jaws, e frustrar os planos de Stromberg. Como Bond atua ao lado de uma espiã soviética, o filme marca a estréia do General Gogol (Walter Gotell), o equivalente de M na KGB, que acabaria participando também dos cinco filmes seguintes.

A princípio, o filme seria um pouco diferente, colocando Blofeld e a SPECTRE mais uma vez como vilões, mas com o mesmo objetivo; esta idéia teve de ser descartada quando Kevin McClory ameaçou processar a EON argumentando que os direitos sobre o uso da SPECTRE pertenciam a ele e deveriam ser pagos. Para evitar uma nova batalha judicial, que atrasaria ainda mais o filme, Broccoli mudou o vilão e removeu totalmente a SPECTRE do filme. McClory também chegou a reclamar que o enredo se parecia com o de Thunderball, mas esta reclamação não foi considerada procedente.

The Spy Who Loved Me foi o segundo filme da série dirigido por Lewis Gilbert, de You Only Live Twice, que assumiu o cargo quando Guy Hamilton foi convidado para dirigir o filme do Super-Homem, que acabaria ficando com Richard Donner - curiosamente, a EON pensou em convidar Steven Spielberg, mas ele estava envolvido com a pós-produção de Tubarão, e não pôde aceitar. A música-tema foi interpretada por Carly Simon, e foi a primeira cujo nome não era igual ao do filme, embora a frase "the spy who loved me" esteja na letra. Batizada de Nobody Does It Better, a canção se tornou uma das mais famosas e conhecidas da série, e foi utilizada até na trilha de outros filmes ao longo dos anos, como em Encontros e Desencontros e Sr. e Sra. Smith.

JawsApesar do atraso e dos problemas com roteiro, The Spy Who Loved Me foi extremamente bem recebido, sendo considerado um dos melhores filmes de James Bond, e o melhor com Roger Moore. Com orçamento de 14 milhões de dólares, o filme rendeu 185,4 milhões no mundo inteiro, sendo 46 milhões apenas nos Estados Unidos. Tanto sucesso acabou fazendo com que ele seguisse um curioso caminho inverso: pouco após sua estréia, foi lançada uma versão em livro, escrita por Christopher Wood e publicado pela editora Gridrose.

Após The Spy Who Loved Me, Broccoli planejava adaptar For Your Eyes Only; o sucesso de Guerra nas Estrelas, porém, faria com que ele optasse por adaptar Moonraker, o terceiro livro da série, lançado em 1955, e que no Brasil acabou virando 007 contra o Foguete da Morte. Assim como em Diamonds Are Forever, porém, muito pouco do livro foi realmente utilizado, desta vez com a intenção de que o filme tivesse um clima mais de ficção científica. Curiosamente, ele acabou foi ficando com um enredo parecido com o de The Spy Who Loved Me, o que acabou gerando mais uma vez críticas divididas: alguns elogiam os efeitos especiais e as seqüências de ação, outros reclamam que estes fazem com que os personagens sejam rasos e mal desenvolvidos. Apesar disso, Moonraker foi bastante bem sucedido financeiramente: com um orçamento exorbitante de 31 milhões de dólares, rendeu 210 milhões, sendo um terço disso só nos Estados Unidos.

Em Moonraker, Bond se vê mais uma vez envolvido com um megalomaníaco, que mais uma vez quer destruir o mundo, para mais uma vez refazer a civilização a seu modo, mas desta vez no espaço. O vilão da vez é Hugo Drax (Michael Lonsdale), bilionário dono de uma indústria aeroespacial, que planeja acabar com a humanidade envenenando-a. A Bond Girl do filme é Holly Goodhead (Lois Chiles), cientista espacial que no início trabalha para Drax, mas acaba se bandeando para o lado de Bond. E o capanga é mais uma vez Jaws, retornando após muitos pedidos dos fãs. O diretor é mais uma vez Lewis Gilbert, e a música-tema ficou pela terceira vez com Shirley Bassey. Moonraker também costuma ser conhecido por ser o filme onde Bond visita o Rio de Janeiro, onde ocorre uma antológica cena na qual Jaws morde o cabo do bondinho do Pão-de-Açúcar, arrebentando-o. Não por acaso, também costuma ser lembrado como o filme mais trash da série.

Moonraker estreou em junho de 1979, no Reino Unido três dias antes de nos Estados Unidos. Após sua realização, todos os romances escritos por Fleming já haviam sido adaptados, restando apenas os dois livros de contos. Mas isso já é assunto para a terceira parte deste post, que veremos em breve. Até lá!

James Bond

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quarta-feira, 28 de maio de 2008

Escrito por em 28.5.08 com 0 comentários

James Bond (I)

Todo mundo tem seus sonhos de consumo. Durante muito tempo, o topo da minha lista foi ocupado pela James Bond Ultimate Collection, uma coleção de quatro caixas contendo 20 filmes do agente 007. Estes filmes até eram vendidos separadamente, mas eu não via sentido em comprá-los um a um quando podia ter um pouco mais de paciência e esperar para comprá-los todos juntos. Como esta empreitada não sairia exatamente barata, e eu tinha outros itens na minha lista - além de outros compromissos financeiros, evidentemente - a quantidade de paciência requerida acabou sendo maior do que eu esperava. Mas finalmente, no início deste mês, graças a uma promoção de Dia das Mães, pude pôr minhas mãos em tão cobiçado tesouro. Agora me resta um outro problema: arrumar vinte dias para assistir a estes filmes todos.

Eu não me considero exatamente um fã de James Bond, mas gosto bastante dos filmes, sendo que já assisti todos menos um - 007 contra GoldenEye, para quem estiver se perguntando, por nenhuma razão em especial exceto falta de oportunidade. O primeiro que eu assisti foi justamente o anterior a GoldenEye, 007 Permissão para Matar, que meu pai alugou quando eu tinha uns onze ou doze anos; quando eu descobri que existiam mais 15 filmes da série, fui tomado de uma curiosidade que só cessou depois que aluguei e assisti todos eles. Provavelmente foi por isso que eu nunca assisti GoldenEye, já que ele não existia nesta época, depois disso eu nunca mais aluguei um 007, eu não tinha TV por assinatura quando ele passou por lá, e nunca me interessei de ver um filme de Bond no cinema. Mas agora que eu tenho o DVD, a hora dele um dia chegará.

Mas chega de falar de mim. De todos os filmes que existem, desconsiderando eventuais produções independentes que ninguém conhece, 007 é o que tem o maior número de "continuações": no final deste ano, estréia a produção de número 22. Felizmente eles não são numerados, senão teríamos que conviver com um James Bond XXII ou algo do tipo. Em homenagem ao ano em que Bond alcançará os Dois Patinhos da Lagoa, eu preparei um singelo post aqui para o átomo, como vocês já devem ter percebido. Aliás, um não, quatro singelos posts, já que eu não estava a fim de falar de 22 filmes de uma vez só. Seguindo a tradição, eles serão intercalados com outros assuntos, para que os que odeiam 007 não sumam daqui um mês inteiro. Explicado isto, vamos começar a falar do agente secreto mais famoso do mundo, Bond, James Bond.

Bond, James BondAparentemente poucos sabem, mas Bond não foi criado especialmente para o cinema. Seu criador foi o escritor e jornalista inglês Ian Fleming, Comandante da Marinha Britânica durante a Segunda Guerra Mundial, que decidiu usar sua experiência de trabalho com inteligência militar para escrever romances de espionagem. Fleming criou Bond aos 44 anos, em janeiro de 1952, durante uma temporada em sua casa de praia na Jamaica, curiosamente batizada por ele com o nome de GoldenEye, em homenagem a uma operação militar de mesmo nome que visava vigiar e proteger Gibraltar, uma ilha pertencente ao Reino Unido localizada entre a Espanha e a África. Os que o conheceram dizem, inclusive, que Bond seria um alter ego do próprio Fleming, já que ambos teriam características físicas semelhantes e os mesmos gostos em se tratando de comida, roupas e mulheres. De fato, muitos pesquisadores já tentaram encontrar espiões reais ou fictícios que tivessem servido de inspiração para o 007, mas o próprio Fleming jamais confirmou qualquer fonte de inspiração que não fosse sua própria carreira militar. Até o nome do agente secreto parece não ter tido qualquer fonte relacionada à espionagem: segundo Fleming, ele buscava um nome comum, capaz de fazer com que um espião passasse despercebido no meio de outros cidadãos; enquanto procurava, Fleming, um apaixonado por ornitologia, viu sobre sua mesa em GoldenEye um livro escrito pelo ornitólogo James Bond - e pegou seu nome emprestado.

A estréia de Bond no mundo da literatura aconteceu um ano após sua criação, em 1953, com a publicação de Casino Royale pela editora Jonathan Cape. Até falecer em 1964, aos 56 anos, Fleming publicou doze livros do agente secreto, onze romances e um de contos. Postumamente, em 1965 foi lançado mais um romance, e em 1966 mais um livro de contos. Mais livros com aventuras de James Bond, escritos por outros autores, como Robert Markham, John Gardner e Raymond Benson, foram publicados ao longo dos anos, mas apenas os de Fleming acabaram adaptados para o cinema.

A primeira aventura de Bond fora das páginas dos livros não ocorreu no cinema, mas na televisão: um dos episódios da série de TV Climax!, exibido em 1954, foi uma adaptação do enredo de Casino Royale. Animado com o resultado, Fleming procurou o diretor e produtor Alexander Korda para conversar sobre a possibilidade de adaptar um de seus livros, possivelmente Live and Let Die (o segundo da série, publicado em 1954) ou Moonraker (o terceiro, de 1955) para o cinema, mas Korda não demonstrou interesse. Apenas em 1959 Fleming conseguiu um acordo com o produtor Kevin McClory, segundo o qual ele escreveria um roteiro especialmente para um filme de Bond para o cinema, que seria dirigido por Alfred Hitchcock, com Richard Burton no papel do espião; infelizmente, tanto o diretor quanto o ator acabaram desistindo do filme por estarem envolvidos em outros projetos, o que levou à desistência do produtor. Fleming acabaria utilizando o que já tinha escrito do roteiro em um novo livro, Thunderball (o nono da série, de 1961).

Somente em 1961 o projeto de um filme de Bond começaria a realmente sair do papel, quando o produtor Albert Broccoli, que já havia tentado um contato com Fleming cinco anos antes, convenceu seu amigo mais endinheirado Harry Saltzman a comprar os direitos de adaptação para o cinema de todos os livros de Bond escritos por Fleming - infelizmente, porém, eles não conseguiriam os direitos de Casino Royale, devido a uma pequena confusão jurídica causada pelo fato dele ter sido exibido na TV. Com os direitos em mãos, Brocolli e Saltzman fundaram a produtora EON Productions, e decidiram começar ou por Thunderball ou por Dr. No (o sexto da série, de 1958). Os estúdios de Hollywood, porém, não quiseram saber de filmes de Bond, por considerá-los "de alto conteúdo sexual", "muito britânico", e outras desculpas típicas de estúdios de Hollywood. Somente em julho de 1961 a EON conseguiria um contrato com a United Artists, que a pagaria um milhão de dólares por uma adaptação de Dr. No. Como a EON era uma empresa iniciante, esse milhão era tudo do que eles dispunham para o orçamento do filme.

Após alguns meses de filmagem, Dr. No (que no Brasil ganhou um título bem mais longo, 007 contra o Satãnico Dr. No) estrearia nos cinemas do Reino Unido em 1962, e nos Estados Unidos um ano depois. Sob a direção de Terence Young, o papel de Bond caberia a Sean Connery, à época com 32 anos, mas que não foi a primeira opção nem do diretor, nem dos produtores, nem de Fleming: Young preferia Richard Johnson, que não pôde aceitar por já ter contrato com a MGM; Broccoli e Saltzman desejavam um ator bastante popular, e chegaram a convidar Cary Grant, descartado por ter o hábito de não aceitar fazer continuações; Fleming preferia David Niven, que não foi aprovado pela United Artists; e a EON chegou a fazer uma espécie de concurso, vencido pelo modelo Peter Anthony, que acabou considerado ainda cru para atuar após alguns testes. Após todos estes contratempos, Broccoli e Saltzman optaram por Connery, um ex-fisiculturista com 12 filmes no currículo, não tão famoso mas também não tão desconhecido, e que acabou sendo contratado para os cinco primeiros filmes da série.

Sean ConneryApesar de ser o primeiro filme, Dr. No traz um Bond já veterano, praticamente no auge de sua carreira, com permissão para matar (representada pelo 00 de seu código), enviado para as mais difíceis missões, e que nunca falha. Mulherengo e apreciador das boas coisas da vida, como roupas e relógios caros e martinis de vodca "batidos, não mexidos", Bond é um Comandante reservista da Marinha Britânica, membro da Ordem de São Miguel e São Jorge, que após a "aposentadoria" ingressou como agente do Serviço Secreto de Inteligência Britânico, também conhecido como MI6. Neste primeiro filme, ele é enviado para a Jamaica por seu chefe, conhecido apenas como "M" (Bernard Lee), para investigar o assassinato de outro agente britânico, e, auxiliado pelo agente da CIA Felix Leiter (Jack Lord), descobrir se este evento tem algo a ver com a recente sabotagem de testes de foguetes norte-americanos em Cabo Canaveral. Sua investigação o acaba levando ao recluso Dr. No (Joseph Wiseman), que, como dá nome ao filme, deve ser no mínimo o vilão, responsável pelo assassinato e pelas sabotagens. Além de cientista renegado, Dr. No é membro da organização terrorista SPECTRE (cujo nome vem da sigla "SPecial Executive for Counter-intelligence, Terrorism, Revenge and Extortion", algo como "Agência Especial de Contra-Informação, Terrorismo, Vingança e Extorsão"), uma organização criminosa que planeja dominar o mundo, mas não é ligada a nenhuma nação em particular, o que permitia que o filme fosse apolítico.

Sendo o primeiro filme, Dr. No estabeleceu vários dos elementos que se tornariam tradicionais nos demais filmes de Bond, a começar pela seqüência de abertura, em que o agente é visto através do cano de um revólver, mas mata seu agressor antes de ser atingido, e pelos créditos iniciais animados, que nos apresentam o elenco enquanto toca a música-tema do filme, ambos criados por Maurice Binder - curiosamente, na "seqüência do revólver" de Dr. No, Bond não seria interpretado por Connery, mas pelo dublê Bob Simmons. Outro elemento introduzido em Dr. No que se perpetuaria pelo restante da série é a presença de uma "Bond Girl", uma mulher que acompanha Bond durante o filme, e com quem ele normalmente termina no final, mesmo que seu relacionamento só dure até o próximo episódio; em Dr. No, a Bond Girl é Honey Ryder, interpretada por Ursula Andress, e também é responsável por uma das seqüências mais antológicas do filme, quando sai das águas claras do Caribe vestindo um biquini branco. Dr. No também introduziu os vilões megalomaníacos e superconfiantes; a famosa frase "Bond, James Bond", com a qual o agente se apresenta; e, é claro, a música-tema de 007, hoje uma das melodias mais famosas do cinema, composta por Monty Norman e executada pela orquestra de John Barry - que mais de uma vez tentou provar na justiça que ele seria o verdadeiro autor do tema, mas sem sucesso.

Infelizmente, os livros de Fleming não eram muito populares em 1962, então muitos críticos torceram o nariz para o filme quando de seu lançamento. Conforme o tempo passava, porém, Dr. No se tornava mais e mais popular, principalmente devido à propaganda boca-a-boca, e, quando estreou nos Estados Unidos, recebeu críticas bem melhores. Ao todo, o filme rendeu 16 milhões de dólares nos Estados Unidos e 59 no mundo inteiro, sendo considerado um grande sucesso financeiro; mais do que isso, o sucesso de Bond motivaria uma onda de agentes secretos, com centenas de filmes, livros e séries de TV sobre o assunto pipocando durante toda a década de 1960 e início da de 1970. Com todo este bom desempenho, é lógico que estava acesa a luz verde para uma continuação, justamente como a EON queria.

Curiosamente, para a seqüência Broccoli e Saltzman escolheram From Russia with Love, justamente o livro lançado imediatamente antes de Dr. No, em 1957. Após algumas modificações, o filme, que no Brasil seria rebatizado para Moscou contra 007, acabou virando uma continuação direta, já que nele a SPECTRE planeja se vingar de Bond pela morte de Dr. No. A razão pela qual From Russia with Love foi escolhido para segundo filme foi quase um golpe de marketing, já que pouco antes o presidente dos EUA na época, John F. Kennedy, havia declarado à revista Life que este era um de seus dez livros preferidos. No livro, inclusive, a organização criminosa era a soviética SMERSH, mas os produtores optaram por substituí-la pela neutra SPECTRE para evitar conotações políticas em uma época tão conturbada.

Mais uma vez dirigido por Young e com Connery no papel de Bond, From Russia with Love custou 2 milhões de dólares, o dobro de seu antecessor, estreou nos cinemas do Reino Unido em 1963, e nos Estados Unidos um ano depois. Com uma recepção dos críticos extremamente favorável, rendeu 24 milhões de dólares nos Estados Unidos, e quase 79 milhões no mundo inteiro. De fato, o filme é bom mesmo, sendo considerado um dos melhores da série até hoje, e o favorito do próprio Sean Connery. Assim como Dr. No, ele também introduziu vários "costumes" da série, como uma música-tema interpretada por um artista de renome - no caso, Matt Monro, embora neste filme a versão dos créditos iniciais seja instrumental, com a versão cantada executada apenas nos créditos finais - e a frase "James Bond voltará" logo após o "The End". From Russia with Love também foi o primeiro filme em que Desmond Llewelyn interpretou Q, o "cientista maluco" responsável por criar os incríveis dispositivos de agente secreto utilizados por Bond, como relógios magnéticos e canetas explosivas; Llewelyn interpretaria o personagem em todos exceto dois dos filmes da série até falecer em 1999.

Honey Ryder e BondMas o filme também tem um enredo: seguindo um plano do gênio enxadrista tchecoslovaco Kronsteen (Vladek Sheybal), a SPECTRE planeja roubar uma máquina decodificadora dos soviéticos, colocar a culpa nos britânicos, vendê-la novamente a eles, e ainda se vingar de Bond pela morte do Dr. No. A execução da missão ficará a cargo da soviética Rosa Klebb (Lotte Lenya), ex-membro da SMERSH, escolhida pelo líder da SPECTRE em pessoa (que era tão secreto que até nos créditos o nome do ator que o interpretava, Anthony Dawson, apareceu simplesmente como "?"), auxiliada pelo assassino Grant (Robert Shaw), que tem a missão de nada menos do que matar Bond. Este, sem saber que sua vida corre perigo (ou sabendo, já que teoricamente a vida de agentes secretos sempre corre perigo) é enviado por M ao encontro de Tatiana Romanova (Daniela Bianchi), a Bond Girl da vez, funcionária da embaixada soviética em Istanbul. Tatiana é enganada por Klebb, que finge estar confiando a ela uma missão preparada pelo governo, segundo a qual ela deve fingir ser uma desertora desejando entregar a decodificadora, sob a condição de que o 007 em pessoa venha buscá-las e levá-las para Londres.

O sucesso do segundo filme levou naturalmente ao terceiro; desta vez, o livro escolhido para ser adaptado foi Goldfinger, o que havia sido lançado imediatamente após Dr. No, em 1959. Com orçamento de 3 milhões de dólares - o mesmo que seus dois antecessores somados - Goldfinger (007 contra Goldfinger no Brasil) foi o primeiro filme de Bond a estrear no Reino Unido e nos Estados Unidos no mesmo ano (1964), embora com um intervalo de três meses, o primeiro a ganhar um Oscar, de Melhores Efeitos Sonoros (hoje chamado Melhor Edição de Som) e o primeiro a ser considerado um blockbuster, se pagando com a bilheteria de duas semanas, rendendo 51 milhões de dólares nos Estados Unidos, e 125 milhões no mundo inteiro. Curiosamente, durante as filmagens Connery exigiu um aumento de salário, e as negociações só se concluíram quando ele aceitou uma oferta da EON de que ele receberia 5% da renda de todos os filmes de Bond nos quais atuasse - o que talvez prova que esta renda fabulosa era inesperada. Young também teve uma discussão sobre remuneração com a EON, mas não conseguiu chegar a um acordo, e acabou desistindo de dirigir o filme, sendo substituído por Guy Hamilton. Fleming, infelizmente, não viveu para ver a estréia, falecendo de ataque cardíaco um mês antes de Goldfinger ir aos cinemas.

Goldfinger teve sua música-tema cantada por Shirley Bassey, uma das maiores popstars da época, e traz dois dos personagens mais conhecidos dos fãs, o capanga Oddjob (Harold Sakata), com seu chapéu com aba de aço capaz de decapitar uma estátua de mármore, e a Bond Girl com o nome de maior duplo sentido de todos os tempos, Pussy Galore (Honor Blackman), que além de tudo era piloto de avião e aliada do vilão Alric Goldfinger (Gert Fröbe, que era alemão e não falava inglês, tendo de ser dublado por Michael Collins); além do retorno do agente da CIA Felix Leiter, desta vez interpretado por Cec Linder. O filme traz ainda a antológica cena da mulher "transformada em ouro" - na verdade, coberta com ouro para morrer sufocada, em vingança de Goldfinger por sua traição ao se deixar seduzir por Bond - talvez uma das cenas mais famosas da série. Durante as filmagens, a atriz Shirley Eaton quase teve o mesmo destino de sua personagem, já que a tinta com a qual foi pintada era muito rija, e ela não conseguia respirar, pois seu tórax não se expandia. A solução para que ela não morresse foi não pintar seu tórax, e colocá-la de bruços na cama onde a personagem seria encontrada morta.

No enredo, Bond enfrenta o milionário Goldfinger, totalmente obcecado por ouro, que planeja explodir uma "bomba suja" (uma bomba comum que carrega material atômico, causando contaminação por radiação ao invés de uma explosão nuclear) dentro do Fort Knox, o famoso depósito de ouro dos Estados Unidos, para que o ouro norte-americano seja inutilizado e as reservas do próprio Goldfinger passem a ser as mais valiosas da Terra. Apesar de uma boa parte do filme ser ambientada nos Estados Unidos, Connery não viajou para lá durante as filmagens, fazendo todas as suas cenas na Inglaterra. Além disso, a EON não obteve permissão para filmar dentro do Fort Knox, então tiveram de construir todo o interior do prédio em um estúdio, e de acordo com a própria imaginação da equipe, já que ninguém fazia a menor idéia de como seria o interior do Fort Knox. Surpreendentemente, o resultado final ficou tão convincente que o diretor do Fort Knox escreveu uma carta aos produtores parabenizando-os por sua criatividade. A United Artists também recebeu muitas cartas, mas de norte-americanos irados com o fato de "permitirem que uma equipe de filmagem britãnica entrasse no Fort Knox".

Bond e Pussy GaloreDepois de Goldfinger, finalmente chegou a vez de Thunderball, aquele que deveria ter sido o primeiro filme de Bond, mas acabou virando o nono livro da série. Devido a este incidente, praticamente assim que a EON anunciou que iria filmá-lo, Kevin McClory e Jack Whittingham reclamaram seus direitos. Na verdade, ambos já lutavam na justiça desde 1961, o ano da publicação de Thunderball, alegando que eram co-autores do roteiro que daria origem ao livro - e, subseqüentemente, ao filme da EON - tendo Fleming publicado-o sem o devido crédito. Após um primeiro julgamento, ficou determinado que McClory possuía direitos sobre o enredo e alguns dos personagens. Como Goldfinger havia sido um tremendo sucesso, Broccoli e Saltzman temiam que McClory usasse estes direitos para lançar um "007 paralelo" e ganhar algum dinheiro na onda do original. Como eles não estavam dispostos a enfrentar uma nova batalha judicial, procuraram McClory e Whittingham, e ficou acertado que a dupla receberia uma parcela dos lucros com a produção, além de ser creditada no filme como autores do roteiro original. Embora isto tenha resolvido as coisas em 1964, não encerrou a questão, e disputas na justiça britânica quanto aos direitos autorais do livro persistem até hoje.

Connery interpretou Bond pela quarta vez, mas já começava a se irritar com a intrusão de jornalistas em sua vida pessoal causada pela popularidade do papel. Hamilton foi convidado para repetir a direção, mas recusou alegando estar "criativamente esgotado" após Goldfinger; Young, que na época das filmagens de Dr. No expressara interesse em dirigir uma adaptação de Thunderball, foi convidado para reassumir o posto, e aceitou. A música-tema ficaria a cargo de outro popstar da década de 60, Tom Jones. Para o papel da Bond Girl Domino Derval, a EON chegou a cogitar nomes como Julie Christie, Raquel Welch e Faye Dunaway, mas, na impossibilidade destas, acabou optando pela Miss França Claudine Auger - o que curiosamente levou a uma mudança de nome e nacionalidade da personagem, que no livro é italiana e se chama Dominetta Palazzi. O papel do vilão Emilio Largo, segundo em comando da SPECTRE, ficaria com o italiano Adolfo Celi, que também acabaria tendo de ser dublado, desta vez por Robert Rietty. E Felix Leiter retornaria pela terceira vez interpretado pelo terceiro ator diferente, Rik Van Nutter.

Thunderball (que no Brasil virou 007 contra a Chantagem Atômica) seria o 007 mais caro até então, custando 5,6 milhões de dólares; em compensação, seria também o mais rentável, com 63 milhões nos Estados Unidos - rendendo mais em seu primeiro fim de semana que os três anteriores somados - e 141 milhões no mundo todo. O filme, aliás, foi o primeiro 007 a estrear nos Estados Unidos antes de no Reino Unido, com as estréias separadas por oito dias em dezembro de 1965, e o segundo a ganhar um Oscar, de Melhores Efeitos Especiais.

No enredo, Bond é mais uma vez enviado para o Caribe, desta vez para as Bahamas, onde enfrentará mais uma vez a SPECTRE, que desta vez roubou duas ogivas nuclares da OTAN e exige um resgate de 100 milhões de libras em diamantes para não usá-las contra cidades dos Estados Unidos e Inglaterra. Para frustar este plano malévolo, Bond terá de confrontar Largo, escapar das tentativas de assassinato da femme fatale Fiona Volpe (Luciana Paluzzi) e ainda lidar com os capangas da SPECTRE no fundo do Mar do Caribe, em uma seqüência subaquática caríssima e complicadíssima de ser filmada, mas que é o ponto alto do filme.

Enquanto o quinto filme de James Bond, que sucederia Thunderball, entrava em produção, Broccoli e Saltzman foram procurados pelo produtor Charles K. Feldman, que havia conseguido os direitos de adaptação de Casino Royale, o único dos livros de Fleming não incluído no pacote adquirido pela EON. A idéia de Feldman era fazer de Casino Royale o quinto filme da série, co-produzindo-o com a EON. Broccoli e Saltzman, porém, tinham outros planos, e não aceitaram a oferta. Como Feldman já tinha os direitos, ele decidiu fazer o filme assim mesmo, mas, como achava que não conseguiria competir com os filmes "oficiais", resolveu transformá-lo em uma comédia satírica. O enredo é apenas levemente inspirado no livro, já que traz um 007 aposentado, interpretado por David Niven, e que sai da aposentadoria para investigar a morte de diversos agentes britânicos. Para confundir seus oponentes, ele pede para que seis outras pessoas - homens e mulheres, dentre eles personagens interpretados por Peter Sellers e Ursula Andress, e até uma filha de Bond com Mata Hari - também se identifiquem como James Bond. Como se isso já não fosse suficientemente confuso, Bond ainda morre no final. O filme custou uma exorbitância de 12 milhões de dólares, mas, talvez por pegar carona no sucesso dos 007 verdadeiros, já que estreou em 1967, e 1966 não teve a estréia de nenhum filme da EON, rendeu 41 milhões ao redor do mundo. Embora tenha feito um certo sucesso na época, atualmente este Casino Royale costuma ser considerado ruim, e, evidentemente, não é levado em conta pelos fãs da série.

BlofeldO quinto filme da série 007 só estrearia nos cinemas dois meses depois de Casino Royale, em junho de 1967, com um dia de diferença entre as estréias do Reino Unido e dos Estados Unidos. You Only Live Twice (no Brasil, Com 007 Só Se Vive Duas Vezes) era uma adaptação do décimo-segundo livro da série, último publicado antes da morte de Fleming. Desta vez, Bond seria enviado ao Japão para investigar o desaparecimento de uma espaçonave norte-americana. Como era a época da Guerra Fria, os Estados Unidos imediatamente colocaram a culpa na União Soviética, o que poderia levar a um conflito de proporções catastróficas. Trabalhando em conjunto com o agente do serviço secreto japonês Tigre Tanaka (Tetsuro Tamba), sua assistente Aki (Akiko Wakabayashi, de King Kong vs Godzilla e Ultra Q) e com a Bond Girl Kissy Suzuki (Mie Hama), Bond acaba descobrindo, nada surpreendentemente, que na verdade era tudo um plano da SPECTRE, que planejava colocar as duas maiores potências do mundo uma contra a outra, roubando espaçonaves soviéticas para colocar a culpa nos Estados Unidos e vice-versa, para emergir como potência dominante após o conflito. Neste filme, Bond finalmente se vê cara-a-cara com o líder da SPECTRE, o megalomaníaco Ernst Stavro Blofeld (Donald Pleasence).

Diferentemente de outros filmes da série, You Only Live Twice é quase todo ambientado em um único país, o Japão, e por isso também foi quase todo filmado lá, com enormes multidões de curiosos acompanhando cada cena. Toda a base da SPECTRE, porém, foi construída em estúdio na Inglaterra, e ficou tão gigantesca que podia ser vista a cinco quilômetros de distância, atraindo mais uma multidão de curiosos. Ao todo, o filme custou 9 milhões e meio de dólares, mas rendeu 43 milhões nos Estados Unidos e 111 no mundo inteiro. A música-tema foi cantada por Nancy Sinatra, e a direção ficou a cargo de Lewis Gilbert.

O contrato de Sean Connery acabaria logo após as filmagens de You Only Live Twice. E aí? Ele renovou? Ele saiu? Estas e outras perguntas serão respondidas em breve, quando tivermos a segunda parte deste post. Até lá!

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